CAMPANHA DA LEGALIDADE: HÁ 58 ANOS LEONEL BRIZOLA BARRAVA O PRIMEIRO GOLPE CONTRA JANGO

CAMPANHA DA LEGALIDADE: HÁ 58 ANOS LEONEL BRIZOLA BARRAVA O PRIMEIRO GOLPE CONTRA JANGO

Logo após a renúncia de Jânio Quadros, os militares tentaram tomar o poder. Mas Brizola conseguiu impedir. Confira o vídeo de seu discurso

Em 25 de agosto de 1961, o presidente da República Jânio Quadros renunciou ao mandato, por motivos que até hoje não se sabe ao certo. O vice-presidente eleito, João Goulart, do PTB, era quem, constitucionalmente, deveria assumir. Porém, aquele mês seria muito mais conturbado.
O motivo era que os militares não queriam que Jango assumisse o cargo. O exército não aceitou que Jango pudesse governar o Brasil, pois afirmavam que ele estava associado demais à forças populares e de esquerda, a ponto de acusá-lo de comunista.
No momento da renúnica de Jânio, Jango voltava de uma viagem diplomática na China, país comunista cujas relações com o Brasil os políticos tentavam reatar. Diante desse cenário, o Exército define que seria absurda a posse de Goulart.
Por isso, uma junta militar foi ao Congresso Nacional pressionar os deputados para tentar assumir o Poder, a partir de suas ligações com as cabeças das duas casas, Ranieri Mazzilli e Auro de Moura Andrade. Pouco antes de Jango sair da China, é anunciada a primeira tentativa de golpe. Jango foi então instruido a voltar pela rota do Pacífico e entrar no Brasil pelo Rio Grande do Sul, onde tinha apoio popular do então governador, Leonel Brizola.
É justamente essa a figura central deste momento.  Com Jango no exterior, Brizola era o maior quadro do PTB no Brasil. E sendo ele muito mais radical que Jango, sua posição era clara: aquele golpe ia ser barrado, custe o que custasse.
Então, Brizola desceu até os porões do Palácio do Piratiní, sede do governo gaúcho, onde montou e ligou o sistema de rádios. No rádio, foi anunciado e começou a discursar para o povo brasileiro, convocando os batalhões do exército e o povo às ruas para barrar o golpe. Declararam a Campanha da Rede da Legalidade, dedicada a assegurar, por política ou à força, a posse de João Goulart, como previsto em Lei.
Entre as questões abordadas pela Campanha da Legalidade está o fato de que, conseguindo apoio de diversos generais, do Exército do Rio Grande do Sul, dos trabalhadores de São Paulo e setores goianos, Brizola dispôs à população todo o armamento disponível.
Transformou também o palácio em uma barricada e convocou, no caso de mantimento do golpe, uma greve geral. Brizola fechou as escolas de Porto Alegre, mandou as crianças para junto dos pais e abonou qualquer falta dos trabalhadores do setor público.
A ala golpista do Exército brasileiro ameaçou bombardear o Palácio do Piratiní com o governador dentro, mas Brizola não largou mão. Quando Jango chegou no Brasil, discutiu muito com Brizola, pois, Jango queria encontrar uma solução conciliatória para assumir e tentar passar reformas de esquerda. Já Brizola não queria abrir espaço para o aumento do poder dos militares, que o conseguiam por vias ilegais.
Jango queria negociar, Brizola resistir. E por 14 dias, a tensão rolou solta.
Jango então vai para Brasília negociar com os militares. A proposta dos golpistas, para conciliar o golpe com a constituição, era que Jango assumisse com poderes reduzidos, em um sistema parlamentarista.
A contra-gosto, para impedir um banho de sangue no Brasil, Jango aceitou as demandas militares e assumiu a Chefia do Estado sem plenos poderes de Chefe de Governo (que passaram para Tancredo Neves, primeiro-ministro). Isso durou até 1963, quando um plebicito fez retornar o presidencialismo no país.
Brizola marcou o país pela campanha que conseguiu articular em nome da Resistência Democrática. Em 1964, quando Goulart leva um novo golpe, Brizola tentaria novamente iniciar a Rede da Legalidade, mas Jango o impede, para que não se iniciasse uma Guerra Civil no país. Contra ditaduras, Brizola sabia que isso significava se entregar ao autoritarismo e à barbárie. Ele estava certo.
Confira vídeos do discurso:
https://youtu.be/vPbB7PH8A-U


A Revolução industrial brasileira e a história do trabalhismo



A Revolução industrial brasileira e a história do trabalhismo

Estranharam o título? Esperavam um texto sobre a revolução Industrial Inglesa, no século XVIII, com o advento das máquinas a vapor? Pois então, é isso que aprendemos na escola.
Mas, e a Revolução Industrial Brasileira?
Vou tentar explicar sem que esta leitura fique chata.
Por conta do extrativismo colonialista empreendido por Portugal à sua colônia chamada Brasil, o processo de industrialização das bandas de cá, se inicia no final do século XIX, muito tempo depois. Mas nós temos nossa história; e é sobre ela que vamos conversa hoje.
Com o final da escravidão, e mão de obra abundante com a imigração de italianos, muitos cafeicultores brasileiros começaram a investir em fábrica de tecidos e calçados, com sobra de suas riquezas provenientes da exportação do café.
Durante a república velha, 1889 a 1930, as oligarquias regionais é que governavam o país, faziam daqui o que bem entendiam. O Estado brasileiro praticamente não existia, direitos trabalhistas e sociais, nem pensar!
Mas o povo iria reagir. O Movimento Tenentista, liderado por Luis Carlos Prestes, percorreu 25 mil Km demonstrando sua insatisfação com as desigualdades sociais. Em 1922 o Movimento de Arte Moderna, com intelectuais, artistas, demonstraram, da mesma forma sua insatisfação e ficaram para a história.
Na Europa, também parte do mundo se rebelava contra os maus tratos, carga de trabalho desumana, ausência de proteção social, exploração da força de trabalho de forma absurda. Na Rússia, com a revolução, os operários tomam o poder para si em 1917. Enquanto isso, a bolsa de valores de Nova Iorque faz ….”crack” em 1929. O Mundo estava em completa turbulência.
Em 1930, Júlio Prestes, fraudando as eleições, ganha as eleições presidenciais de Getúlio Vargas, que, apoiado pelo povo, pela classe média emergente e pelo operariado, toma o poder. A revolução sai vitoriosa e começa aí, o primeiro período Vargas, que vai de 30 a 45.
É neste período que a industrialização brasileira, de fato, é impulsionada. Foram criadas leis regulamentando o mercado de trabalho, implantado medidas protecionistas aos produtos nacionais e realizados grandes investimentos em infra estrutura; tendo o setor industrial se beneficiado bastante com a Segunda Guerra Mundial de 39 a 45. Sim, porque os países centrais, envolvidos diretamente na guerra e com suas cidades bombardeadas, necessitaram importar muitos produtos industrializados, inclusive do Brasil.
Mas com o fim da Guerra em 1945, chega ao fim o primeiro governo Vargas, que é deposto pelos militares. São criados dois partidos, o PSD (Partido Social Democrata) e o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), composto, em sua grande maioria, por operários e sindicalistas, preocupados em defender o legado getulista.
Aqui começa o trabalhismo brasileiro.
O papo tá chato?
Então vamos fazer um intervalo. Leia este pequeno texto outras vezes. Sedimente estas informações. Conhecer nossa história é fundamental pra quem quer construir o futuro.
Voltamos já. Um abraço fraterno
Marcio Aurelio Soares
Medico Sanitarista e do Trabalho


“Suicidou-se o Sr Getúlio Vargas”


“Suicidou-se o Sr Getúlio Vargas”

Há 65 anos, esta foi a manchete do Jornal O Globo. Um suicídio que marcou a história do Brasil em 24 de agosto de 1954.
Para entender o contexto de sua morte:
Getúlio retorna ao poder pelo voto direto nas eleições de 1950. Com Vargas o Brasil começa a se industrializar, a se modernizar e assumir algum protagonismo internacional; funda a Petrobras, o BNDES, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda) e a Eletrobrás. Embora tenha sido um ditador de 1937 a 1945, quando os direitos políticos desaparecem, ele faz surgirem os direitos sociais por meio das leis de proteção ao trabalho. Ao contrário de outros países, cujas lutas populares levaram a conquistas sociais, no Brasil, isso se dá diante de um governo ditatorial. Vargas entra no século XX com ideias positivistas, para quem a centralização de poder seria indispensável para que o Brasil se desenvolvesse.
No entanto, de “volta aos braços do povo”, como costumava dizer, encontra um país dividido entre os liberalistas e os nacionalistas. Os primeiros, representados pelo empresariado nacional, e militares, defendiam a abertura da economia nacional ao capital estrangeiro e adoção de medidas monetaristas que controlariam as atividades econômicas e os índices inflacionários. Por sua vez, os nacionalistas, que contavam com trabalhadores e representantes de esquerda, eram favoráveis a um projeto de desenvolvimento que contasse com a participação maciça do Estado na economia e a rejeição ao capital estrangeiro. Esse dualismo, gerava grandes enfrentamentos, em especial, de Carlos Lacerda, jornalista e político, oposicionista ferrenho, representante dos liberais, contrário a intervenção nacionalista de Vargas. Lacerda tinha o apoio da elite econômica, em especial dos jornais da época, como A Tribuna de Imprensa, de sua propriedade, de O Globo, de Roberto Marinho, e, de Última Hora, de Samuel Wainer, que denunciavam a “esquerdização” do governo e práticas de corrupção.
Foi aí que seu segurança pessoal, Gregório Fortunato, teve uma “grande” e péssima ideia, atentar contra a vida de Carlos Lacerda, em frente a sua residência, em Copacabana; o que ficou conhecido como o Atentado da Rua Toneleiros, quando seu segurança e Major Rubens Vaz, perde a vida, no dia 05 de agosto de 1954. Na condição de militar, o inquérito foi conduzido pela Aeronáutica, período chamado de  “A República do Galeão”. Há muitas controvérsias a respeito deste caso, mas, de qualquer forma, serviu como mais um grande fator de pressão em cima do governo.
O golpe era iminente. Mídia e suposto atentado, eram fatores mais que suficientes para que a elite e os militares exigissem a renúncia de Getúlio Vargas, que adia o golpe por 10 anos, com seu suicídio.
Se você consegue ver alguma semelhança com o golpe de 1964 e com os enfrentamentos políticos atuais, você não está errado. Como diria Karl Marx, “a história se repete, a primeira como tragédia e a segunda como farsa”.
Marcio Aurelio Soares

A Revolução industrial brasileira e a história do trabalhismo




A Revolução industrial brasileira e a história do trabalhismo

Estranharam o título? Esperavam um texto sobre a revolução Industrial Inglesa, no século XVIII, com o advento das máquinas a vapor? Pois então, é isso que aprendemos na escola.

Mas, e a Revolução Industrial Brasileira?

Vou tentar explicar sem que esta leitura fique chata.

Por conta do extrativismo colonialista empreendido por Portugal à sua colônia chamada Brasil, o processo de industrialização das bandas de cá, se inicia no final do século XIX, muito tempo depois. Mas nós temos nossa história; e é sobre ela que vamos conversa hoje.
Com o final da escravidão, e mão de obra abundante com a imigração de italianos, muitos cafeicultores brasileiros começaram a investir em fábrica de tecidos e calçados, com sobra de suas riquezas provenientes da exportação do café.

Durante a república velha, 1889 a 1930, as oligarquias regionais é que governavam o país, faziam daqui o que bem entendiam. O Estado brasileiro praticamente não existia, direitos trabalhistas e sociais, nem pensar!

Mas o povo iria reagir. O Movimento Tenentista, liderado por Luis Carlos Prestes, percorreu 25 mil Km demonstrando sua insatisfação com as desigualdades sociais. Em 1922 o Movimento de Arte Moderna, com intelectuais, artistas, demonstraram, da mesma forma sua insatisfação e ficaram para a história.

Na Europa, também parte do mundo se rebelava contra os maus tratos, carga de trabalho desumana, ausência de proteção social, exploração da força de trabalho de forma absurda. Na Rússia, com a revolução, os operários tomam o poder para si em 1917. Enquanto isso, a bolsa de valores de Nova Iorque faz ….”crack” em 1929. O Mundo estava em completa turbulência.

Em 1930, Júlio Prestes, fraudando as eleições, ganha as eleições presidenciais de Getúlio Vargas, que, apoiado pelo povo, pela classe média emergente e pelo operariado, toma o poder. A revolução sai vitoriosa e começa aí, o primeiro período Vargas, que vai de 30 a 45.
É neste período que a industrialização brasileira, de fato, é impulsionada. Foram criadas leis regulamentando o mercado de trabalho, implantado medidas protecionistas aos produtos nacionais e realizados grandes investimentos em infra estrutura; tendo o setor industrial se beneficiado bastante com a Segunda Guerra Mundial de 39 a 45. Sim, porque os países centrais, envolvidos diretamente na guerra e com suas cidades bombardeadas, necessitaram importar muitos produtos industrializados, inclusive do Brasil.
Mas com o fim da Guerra em 1945, chega ao fim o primeiro governo Vargas, que é deposto pelos militares. São criados dois partidos, o PSD (Partido Social Democrata) e o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), composto, em sua grande maioria, por operários e sindicalistas, preocupados em defender o legado getulista.


O papo tá chato?

Então vamos fazer um intervalo. Leia este pequeno texto outras vezes. Sedimente estas informações. Conhecer nossa história é fundamental pra quem quer construir o futuro.
Voltamos já. Um abraço fraterno

Marcio Aurelio Soares
Medico Sanitarista e do Trabalho

Reconstruindo sonhos

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Reconstruindo sonhos



         Eu era muito jovem, 21 anos, universitário, pleno de sonhos e determinação para construir um mundo melhor de se viver. Vivíamos em plena ditadura militar. O ano era de 1980; a UNE - União Nacional dos Estudantes, acabara de realizar seu primeiro Congresso de reconstrução na legalidade em maio de 1979. Nossa sede, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, tinha sido sede do Clube Germânia, reduto dos simpatizantes do nazifascismo, até que os estudantes, em 1942, o tomaram para si, fazendo dele o centro das lutas estudantis. Em 1962, foi fundado ali o famoso CPC – Centro Popular de Cultura, pelo ator e dramaturgo Oduvaldo Viana Filho, o Cineasta Leon Hirszman e o sociólogo Carlos Estevam Martins. A proposta veiculada pelo CPC logo recebeu a adesão de vários outros artistas e intelectuais, entre os quais Ferreira Gullar, Francisco de Assis, Paulo Pontes, Armando Costa, Carlos Lyra, João das Neves, e tantos outros. Eram tempos em que ser reconhecida(o) não era ter o carro mais novo, a roupa de marca, o relógio caro. Ser charmosa(o) era saber escrever poesia, tocar violão, ser sensível e angustiado por tanto a ter que construir num país tão pobre e tão rico.

            Mas os sonhos acabam. Não, os sonhos, eles tentam destruir. Foi isso o que aconteceu naquela manhã do 1º de abril de 1964, os fascistas atearam fogo no prédio, destruíram tudo e quase a todos, se a estudantada não tivesse fugido pelos fundos do prédio.

            De 1964 a 1980, passava diariamente de ônibus pela praia, e lá estava o prédio enegrecido pela fuligem, estampando na nossa cara, os tempos de trevas.

            Por um ato discricionário do Governador do Estado da Guanabara, Sr Chagas Freitas, antevendo nossa intenção em voltar a ocupar a nossa sede, ordenou sua demolição. Mas a juventude é poderosa e transformadora. Foram dias de luta judicial, vigília na porta do prédio. Até que o Choque da Polícia resolveu entrar em ação e a porrada comeu solta. Foram 14 estudantes presos, e muitos machucados. Não esqueço de um deles, até hoje, grande amigo. Foram 11 pontos na cabeça! Saímos destruídos com nosso prédio no chão. Mas não destruíram nossos sonhos.

            Os tempos foram passando, me formei, casei, tive filhos; os projetos foram se renovando; até que hoje, aos 60 anos de idade, estou aqui de novo, cheio de sonhos e determinação para construir um mundo  de se viver.