“Suicidou-se o Sr Getúlio Vargas”


“Suicidou-se o Sr Getúlio Vargas”

Há 65 anos, esta foi a manchete do Jornal O Globo. Um suicídio que marcou a história do Brasil em 24 de agosto de 1954.
Para entender o contexto de sua morte:
Getúlio retorna ao poder pelo voto direto nas eleições de 1950. Com Vargas o Brasil começa a se industrializar, a se modernizar e assumir algum protagonismo internacional; funda a Petrobras, o BNDES, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda) e a Eletrobrás. Embora tenha sido um ditador de 1937 a 1945, quando os direitos políticos desaparecem, ele faz surgirem os direitos sociais por meio das leis de proteção ao trabalho. Ao contrário de outros países, cujas lutas populares levaram a conquistas sociais, no Brasil, isso se dá diante de um governo ditatorial. Vargas entra no século XX com ideias positivistas, para quem a centralização de poder seria indispensável para que o Brasil se desenvolvesse.
No entanto, de “volta aos braços do povo”, como costumava dizer, encontra um país dividido entre os liberalistas e os nacionalistas. Os primeiros, representados pelo empresariado nacional, e militares, defendiam a abertura da economia nacional ao capital estrangeiro e adoção de medidas monetaristas que controlariam as atividades econômicas e os índices inflacionários. Por sua vez, os nacionalistas, que contavam com trabalhadores e representantes de esquerda, eram favoráveis a um projeto de desenvolvimento que contasse com a participação maciça do Estado na economia e a rejeição ao capital estrangeiro. Esse dualismo, gerava grandes enfrentamentos, em especial, de Carlos Lacerda, jornalista e político, oposicionista ferrenho, representante dos liberais, contrário a intervenção nacionalista de Vargas. Lacerda tinha o apoio da elite econômica, em especial dos jornais da época, como A Tribuna de Imprensa, de sua propriedade, de O Globo, de Roberto Marinho, e, de Última Hora, de Samuel Wainer, que denunciavam a “esquerdização” do governo e práticas de corrupção.
Foi aí que seu segurança pessoal, Gregório Fortunato, teve uma “grande” e péssima ideia, atentar contra a vida de Carlos Lacerda, em frente a sua residência, em Copacabana; o que ficou conhecido como o Atentado da Rua Toneleiros, quando seu segurança e Major Rubens Vaz, perde a vida, no dia 05 de agosto de 1954. Na condição de militar, o inquérito foi conduzido pela Aeronáutica, período chamado de  “A República do Galeão”. Há muitas controvérsias a respeito deste caso, mas, de qualquer forma, serviu como mais um grande fator de pressão em cima do governo.
O golpe era iminente. Mídia e suposto atentado, eram fatores mais que suficientes para que a elite e os militares exigissem a renúncia de Getúlio Vargas, que adia o golpe por 10 anos, com seu suicídio.
Se você consegue ver alguma semelhança com o golpe de 1964 e com os enfrentamentos políticos atuais, você não está errado. Como diria Karl Marx, “a história se repete, a primeira como tragédia e a segunda como farsa”.
Marcio Aurelio Soares

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