ATESTANDO O ATESTADO


Quem nunca pensou, pelo menos uma vez, em procurar um médico, após uma noite mal dormida, por motivos, digamos, não muito justificáveis, como, para “pegar” um atestado? e, assim, abonar a falta ao trabalho? Ou, ainda, como fazer pra emendar o feriadão? “Ah, tranqüilo; passa no médico e “pega” um atestado”.

Essas e tantas outras , são situações não muito raras que, infelizmente, vivencio dia-a-dia.

O atestado é um documento necessário, que qualquer um de nós, em algum momento da vida vai precisar. Na área de saúde, o médico é o profissional habilitado técnica e legalmente para assiná-lo. O médico assina atestando a vida e a morte; atesta a saúde e a doença. Sem o declaração de nascimento é impossível fazer-se o registro em cartório para que a certidão de nascimento seja emitida; na morte, a mesma coisa; no emprego, também, a assinatura da carteira de trabalho está condicionada ao exame pré-admissional e, do mesmo modo, para a sua demissão é necessário o exame demissional assinado pelo médico do trabalho. O médico, portanto, é o profissional que está habilitado, após o exame de um candidato, a determinar se ele está apto física e psicologicamente a desenvolver a atividade profissional que pretende; e, por isso o atestado.

Também muito comum é a simplicidade com que algumas pessoas insistem em dizer: “vou dar uma passadinha no médico pra pegar uma receita controlada de meu calmante”. Ora, o controle das receitas, quer sejam elas, brancas carbonadas, azuis ou amarelas, não é burocrático; se dá pela necessidade de controlarmos os abusos , pois, são impostos aos medicamentos passíveis de determinarem dependência química, sérios efeitos colaterais ou contraindicações importantes, que só o médico é capaz de avaliar seus benefícios em detrimentos de todos esses riscos. Por isso a necessidade de consulta médica cuidadosa para a emissão do atestado ou da receita.

Outro dia, atendi uma senhora de seus 65 anos que ao ser questionada sobre como ajudá-la, logo se antecipou dizendo não ser nada de importante, “é só uma receitinha controlada para que eu possa comprar o meu calmante”, disse ela tranquila. Sério, lhe perguntei: “A senhora usa essa medicação há muito tempo?”. “Ih, doutor, nem lembro mais quando comecei a usá-la”. “Isso quer dizer que a senhora então está viciada em droga !?”. Um pouco, já sem graça, fez que sim com a cabeça. "Ora, quem diria, a senhora está viciada e vem me procurar achando que eu sou traficante?" E como eu continuava sério, a coitadinha quase chorou, surpresa com a minha reação. Para a sua tranqüilidade, eu estava só brincando e abraçando-a a tranquilizei; mas não perdi a oportunidade para lhe dizer da gravidade daquela situação que, banalizada, poderia lhe causar grandes problemas no futuro.

Temos a tendência de achar que um atestado é dependente apenas de uma assinatura como se isso fosse uma coisa muito simples. Esquecemos que o atestado é uma prerrogativa médica, conferida pelo Conselho Regional de Medicina, após longo período de estudo e formação acadêmica.

Por fim, quero dizer que, independente dessa prerrogativa, ao assinarmos qualquer documento atestamos a sua veracidade, assim como o fazemos num contrato comercial ou num cheque. Ou você assinaria um documento, mesmo que fosse “só pra quebrar o galho de uma amigo?”

Reflita sobre isso antes de solicitar um atestado para o seu médico.

Dr. Marcio Aurelio Soares





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