NÓS, A AMOREIRA E OS PASSARINHOS





Era uma vez uma Amoreira, um pequeno arbusto que aos primeiros frutos nos surpreendeu por sua punjância. Uma pequena sombra é certo, mas as amoras pareciam que se multiplicavam em múltiplos pontos vermelhos até se arroxearem. Caídas ao chão, formavam um verdadeiro tapete de vida. Dali surgiram sucos, geléias...E o prazer de ver aquela vida crescer e se desenvolver.

Criada num espaço coletivo, como não poderia deixar de ser, não tinha dono, era livre, doava-se aos passarinhos que a visitavam regularmente que, como nós, se alimentavam e desfrutavam de seu acolhimento. Nós, a amoreira e os passarinhos.

Em pouco tempo, de um pequeno arbusto, tornou-se uma árvore adulta; seus galhos quase entram no meu quarto que fica no segundo andar da casa, sem serem convidados. E precisaria? Mais frutos, mais galhos, mais folhas, muitas folhas. A amoreira é uma árvore dócil, ela cresce, expande sua copa, mais não agride o solo; suas raízes são maneiras, medem resistência e se acomodam com os limites oferecidos pela natureza, sem comprometer a vida.

Mas... E as folhas? Ao caírem no chão e na piscina, podem trazer alguns inconvenientes; mas nada que mereça destaque e que não se resolva com uma boa vassourada. Não é isso que alguns poucos acham. Dizem que folha no chão é sujeira, que estraga a piscina e os frutos pisados sujam suas casas;e, portanto, pra tão grave crime... Sentença de morte! Vão derrubá-la. Definitivamente, está decretada a morte da amoreira! É o que decidiu a nobre assembléia. O que seriam essas pessoas que as fazem tão diferentes de nós e os passarinhos; o que elas gostariam de ser ou de ter além do que nossa amoreira oferece? Alimentação, acolhimento, proteção...

Não perceberam nada, não entenderam nada! As suas vidas não lhes permitiram qualquer vivência que lhes pudessem favorecer o seu crescimento pessoal? Preferem não enxergar à sua volta, não experimentar, não tentar novos rumos, não ver o mundo e as pessoas com outro olhar. Preferem ver a sujeira, e a vê por todos os cantos e em tudo. Talvez por isso se incomodem tanto com as folhas; é mais fácil, está mais aparente. A “outra” sujeira, “deixa pra lá, vamos falar do vizinho”. E aí, pagam o dízimo ou rezam um terço e a igreja os protejam.

Marcio Aurélio Soares

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