Quanta saudade de Oswaldo Cruz!

O mosquito é um inseto minúsculo, quase imperceptível e de existência fugaz. Pernilongo, borrachudo, muriçoca e fincão são denominações populares para esse ser vivo que nos acompanha desde os tempos de colônia. Existindo há mais de trinta milhões de anos, possuem uma verdadeira bateria de sensores projetados para rastrear suas presas. Sensores químicos, visuais e temperatura, de fazerem inveja às mais modernas máquinas voadoras de destruição.


O Brasil, país com clima tropical e subtropical, quente e úmido, com presença de calor e chuva em boa parte do ano, oferece excelentes condições para o desenvolvimento deste inseto, especialmente, da espécie Aedes Aegypti, transmissor da febre amarela e da dengue. Esta última que, segundo os pesquisadores, chegou por aqui no século XVII, em navios que vinham da África.

Data desta época os primeiros casos de febre amarela que, rapidamente, invadiram o Rio de Janeiro. No século seguinte, a cidade é atingida por um grande surto que acomete quase 10 mil pessoas. As autoridades de então acreditavam que a doença era transmitida por eflúvios miasmáticos, o que justificava a construção de casas com pé direito alto, a existência de sótãos e porões com a finalidade de facilitar a passagem do ar. Somente no início do século XIX creditou-se ao mosquito a responsabilidade pela transmissão destas doenças.

Neste cenário, surge a figura do médico sanitarista Oswaldo Cruz, apoiado pelo presidente do páis naquela época, Rodrigues Alves, que perdera um filho para doença. O apoio foi fundamental para que o médico dividisse a cidade do Rio de Janeiro em distritos e organizasse as chamadas “brigadas mata-mosquito”. As equipes visitavam todas as casas, identificavam (e isolavam) os infectados pela febre amarela e interditavam estas residências, para que fosse aplicado veneno para extinguir o mosquito. As medidas de Oswaldo Cruz tiveram características de uma verdadeira campanha militar, pois a imposição de normas de higiene e vigilância sobre a cidade e os hábitos da população, caracterizavam práticas autoritárias.

Hoje os tempos são outros. Não é a febre amarela que nos assola, mas é o mesmo mosquito. Agora, transmite outra doença viral: a dengue. Nossos mata-mosquitos atuais são os agentes da dengue e as campanhas autoritárias de então, se transformaram em comunicações educativas, tentando esclarecer como se desenvolve o mosquito e quais são as características da doença. Evoluímos no conhecimento médico científico, conhecemos todas as fases da vida do inseto, mas, tal qual no século passado, a população continua achando que o problema é de responsabilidade apenas das autoridades sanitárias. Assim, temos a informação, mas não o conhecimento, que determina atitude e mobilização.

Nossos amigos, parentes e vizinhos estão ficando doentes e continuamos observando. As autoridades distribuem folhetos, rádios e televisões “berram”, diariamente, sobre a necessidade de destruirmos os criadouros do mosquito, os agentes visitam casas, mas os resultados se mantêm desanimadores. A epidemia cresce.

Então, o que esta faltando?

Oswaldo Cruz (foto) nos mostrou, há 100 anos, que só com a mobilização de todas as forças sociais poderemos vencer esta batalha. Parece que nada aprendemos. Não podemos prescindir da autoridade pública que deve, obrigatoriamente, incitar todas as forças sociais, instituições públicas, civis, militares e religiosas a formar uma nova brigada. Devemos mapear as regiões e as atividades de risco, impor severo saneamento de modo a bloquearmos o crescimento do mosquito e o desenvolvimento da doença. Distribuir folheto é importante, mas ainda é pouco. A Cidade tem que ser saneada, tal qual no século passado. Clamamos por ações mais enérgicas.

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