ASBRAFOLEROFULI

ASBRAFOLEROFULI


Associação Brasileira para o Fomento da Leitura por Roubo e Furto de Livros
Meu plantão de 12 horas começava as 7 horas da manhã. Como de hábito, deixei minhas coisas – uma maleta e 2 livros (um de endocrinologia e outro sobre alimentos funcionais), e mais anotações de estudo – sobre uma das camas e dirigi-me até o hall central da enfermaria, onde lá se encontrava a colega médica plantonista da noite, para a tradicional passagem de plantão.

O trabalho transcorria normalmente. Passei visita aos doentes, até que, por algum motivo, retornei ao quarto e, olhando para as camas só avistei um de meus livros, dando falta do outro sobre alimentação. Preocupado, perguntei à equipe de enfermagem se alguém se interessava por alimentos. Todas gordinhas, se entreolharam, como quem diz ironicamente: “O quê esse doutor está querendo insinuar?” Que somos gordas ou ladras? Ninguém tinha entrado no quarto. Entre os médicos residentes e acadêmicos internos a resposta foi a mesma. Nem sequer tinham reparado nos livros; até que um deles lembrou: “Eu vi duas senhoras da limpeza trocando as roupas de cama”. Na lavanderia, o encarregado, sem deixar que eu chegasse ao final, logo se adiantou: “Dr, nossas funcionárias são pessoas simples, mas muito honestas”. Longe de mim acusá-las de qualquer coisa. Imaginei que poderiam ter enrolado o livro nos lençóis e o colocado na máquina de lavar, sei lá.. “não, isso não seria possível; os lençóis são batidos antes de serem colocados na máquina”; disse-me, com segurança.

Surrupiaram meu livro! Fiquei indignado. Quem poderia ter roubado um livro sobre alimentação? Quem, além dos profissionais, teria interesse em literatura médica?

Ao mesmo tempo, ainda frustrado, porém conformado, escrevi no livro de ocorrências médicas do plantão: DENÚNCIA! Num País de analfabetos funcionais, tem gatuno com sede de conhecimento!

O que fazer? Proibir a entrada e saída de todos até que o livro aparecesse? Solicitar a instauração de inquérito policial-militar, administrativo? Ou comemorar; afinal alguém vai ler um livro! Quem sabe, este não seria um indicativo da avidez das pessoas por ler e estudar? Talvez... e, ao invés de correr atrás do ladrão, deveríamos abrir uma biblioteca diferente; um espaço onde os gatunos intelectuais poderiam roubar livremente os livros e lê-los sem a preocupação de vir a ser presos. Mas com essa liberdade o roubo ia perder um pouco de emoção! Tudo bem, poderíamos colocar uns guardas mal pagos, com equipamentos ultrapassados..., só mesmo para fazer de contas. Mas mantendo a impressão de risco. Caso contrário iria perder a graça.

Vou propor à Direção do Hospital, a abertura de uma ONG (Organização Não Governamental): Associação Brasileira de Fomento à Leitura por Roubo e Furto de Livros, que ficaria conhecida pela sigla – ASBRAFOLEROFULI. Já pensou que sucesso! Somos campeões em violência, assaltos, furto à veículos, roubo à bancos, etc. Só faltava roubo à livros. Com certeza, o Governo do Estado inauguraria uma delegacia Especial de Roubo à Livros – DERLI, à exemplo do DENARC, Roubo à Bancos, etc.

Roubaram um livro num País de analfabetos!

Senhores ladrões, venham; façam seus roubos. Aproveitem a “Semana Machado de Assis”!



Um comentário:

Diego Hurtado disse...

Marcio,muito legal esta historia!!!
continue assim