Assim
cantou a escola de samba Imperatriz Leopoldinense no carnaval carioca de 1989:
“Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós. E a que a voz da igualdade seja
sempre a nossa voz”. Os autores desfilavam, em poesia,
o sentimento popular contra a fidalguia do Império, contra a guerra, a
escravidão e a esperança pela conquista da igualdade de oportunidades.
Tal qual a poesia popular, Aristóteles, o filósofo grego, afirmava que “é livre aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir, isto é, aquele que é causa interna de sua ação ou da decisão de não agir”. O que nos faz pensar se realmente estiveram livres os negros após a abolição da escravatura.
O
economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1998, explica
que só existe liberdade plena com desenvolvimento e eliminação das privações
que limitam escolhas e oportunidades. Entre essas privações de liberdade estão:
pobreza, carência de oportunidades econômicas, negligência de serviços públicos
e intolerância.
Ainda segundo
Aristóteles, a riqueza não é um bem em si, mas um meio para conseguirmos mais
liberdade e sua utilidade está nas coisas que ela nos permite fazer, conceito
chamado pelo economista Sen de liberdades substantivas.
Sentir-se
livre, portanto, dentro de um conceito filosófico, é ter a sensação da
liberdade de poder agir. Mas para tanto, é preciso ter meios para provocar a
ação. Sem o que, esta se tornaria inócua. De que vale o direito de ir e vir,
garantido pela Constituição Federal, se não temos para onde ir? De que vale ter
o direito à vida, sem acesso a sistemas de saúde eficazes, privado de educação
de qualidade e sem moradia digna?
Santos diz
em sua bandeira, que é a terra da caridade e da liberdade. Mas na prática, a
teoria é outra, como dizia o célebre Joelmir Beting. Estudantes do curso de Economia
da Universidade Católica de Santos, Andressa Riechelmenn e Daniel Carvalho publicaram
o trabalho “Sobre a liberdade em Santos”, baseado no conceito de liberdade substantiva.
A conclusão dos estudantes é que somente 29% dos santistas, pertencentes às
classes mais ricas, vivem em liberdade plena. A pesquisa teve como base os dados
aferidos pelo Censo de 2010 do IBGE.
Liberdade,
igualdade e fraternidade, princípios da Revolução Francesa em 1789, marca a
luta pelos direitos dos homens, luta pela vida digna. Um princípio ainda distante
de 71% de nossa população. Uma luta ainda presente como nossa bandeira, que
precisa permanentemente ser desfraldada.
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