O DEVER DE ESPERANÇAR

 




Sou um conversador no estrito significado da palavra. Conversar é estabelecer diálogos e exige três condições básicas que são a mensagem, o emissor e o receptor; e num movimento de “ping-pong”. Não fosse essa troca, seria um monólogo. Não é difícil encontrar pessoas que têm um desses papeis mais acentuados do que os outros. Aquele que fala mais e pouco escuta é o mais famoso. Esse “fala pelos cotovelos”, expressão antiga que nos ajuda a entender o perfil daqueles que falam muito e gesticulando, com os braços, mãos e… cotovelos.

Conversar é um excelente exercício para entender o outro, o receptor; e para nos fazer entendido, o emissor. Por isso gosto de escrever “conversando”, pois me dá a nítida impressão de que quem está lendo meus escritos está me ouvindo e escrevo porque os ouço.

PARA ALÉM DO CERTO E DO ERRADO

Cada dia tenho uma escuta nova. Uns aliviados como se o “corona” já não estivesse mais entre nós e fosse coisa do passado. Que intimidade horrível com esse que é nosso algoz e nem vida própria tem! Estamos cansados, só falam disso, o tempo todo. Temos que trabalhar. Como poderei me sustentar sem sair de casa? Usando máscara, como grande parte da população, a maioria se pergunta, como nos aglomerar, ir a festas, se estamos em plena pandemia?

É preciso ouvi-los com muita atenção. Cada um de nós tem suas necessidades e expectativas. O certo e errado está longe de ser o que é certo ou errado para todos. Nunca tínhamos vivido coisa parecida. Estamos aprendendo a ser e ter uma nova vida, talvez menos latina, com menos abraços e beijos, e mais cotovelos para falar.

As vivências presenciais estão restritas e a internet faz parte de nosso dia. As “lives” se reproduzem, os “memes” nos encaram a todo momento, vindos de uma telinha que passa o dia em nossas mãos. “lives” e “memes” são termos que há pouco desconhecíamos e nos distanciam de nossa linguagem nativa, corroendo devagarinho nossa identidade. As mensagens são imitadas e num fluxo digital “viralizam-se” e nos atingem sem percebermos, como um vírus de verdade.

UM NOVO TEMPO, UMA NOVA LUTA

Verdades, mentiras. Certo, errado. São tempos de convicção por imitação. São tempos de manchetes e pouco conteúdo. É preciso conversar. Ouvir e falar. E estudar. Compreender que as mensagens exigem interlocutores mais perspicazes e atentos. E o silêncio ser interpretado como uma fala muda. De culpa? Observação? Dizia o grande líder político Leonel de Moura Brizola:

“Eu não uso a palavra para esconder, mas para revelar meus pensamentos”.

E hoje, sinto que precisamos, para além da política de poder, falar de esperança. Mas não só da esperança do sonho, de nossa fé, mas também da força para alcançar, de nos fazer resilientes. São tempos de luta. O obscurantismo não vencerá a civilização. O autoritarismo não vencerá a democracia e a liberdade. É preciso esperançar!

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