Os filhos estão indo embora


Em tempos de pré-sal e proliferação de arranha céus luxuosos, a política habitacional implementada em Santos, na última década, impediu a fixação de nossa juventude na cidade, ao contrario do que se poderia imaginar.

Neste processo, existem algumas incoerências a serem tratadas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que no período de 2000 a 2010, a população de Santos teve acréscimo, somente, de 1.417 habitantes. Significa aumento populacional de 0,4%, bem abaixo da média nacional (12,5%) e estadual (11,6%). No entanto, o Banco de Dados do SUS (DATASUS) indica o nascimento de 54.264 pessoas na cidade, contra 39.150 óbitos no período. Em um cálculo simples, caracteriza-se aumento populacional de 15.114 habitantes.

Então, para onde foram os cidadãos que nascem santistas, mas que aqui não ficam?

O crescimento vegetativo, a diferença entre nascimentos e mortes, foi compensado pelo saldo migratório, como bem ensina o professor Daniel Vasquez, organizador do livro “A questão urbana na Baixada Santista”. A obra esmiúça informações demográficas e demonstra a estagnação populacional em Santos. A hipótese apresentada é que ocorreu fluxo migratório na Baixada Santista, com os cidadãos rumando em direção à Capital ou outras regiões do Estado.

Na década de 90, a justificativa para o êxodo da população santista era a diminuição da oferta de empregos no Porto e, também, no Polo Industrial de Cubatão. Passados vinte anos, a situação é outra! Apesar da perspectiva de crescimento econômico, o mercado imobiliário e as políticas públicas acabam por expulsar a juventude da cidade, especialmente os jovens com menor poder aquisitivo.

Desde o início do chamado boom imobiliário, 80% dos novos empreendimentos foram construídos nas áreas mais nobres da cidade. Somente 6% de novas construções ergueram-se na Zona Noroeste e nos Morros. Estes dados apontam a permissão de acesso aos novos apartamentos apenas às famílias de alto padrão econômico. Este perfil de crescimento obriga famílias menos abastadas financeiramente a procurar áreas menos valorizadas, empurrando os que ocupavam as regiões intermediárias para imóveis ainda mais distantes, fora dos limites da cidade quase sempre. Assim, explica-se o grande crescimento populacional nas demais cidades da Baixada Santista.

A lógica do mercado imobiliário é o lucro. Com isso, o Plano Diretor do Município precisa ser reavaliado com extrema urgência. Por meio de coeficientes de aproveitamento por tipo de imóvel e região. Pode-se incentivar, por exemplo, a construção de moradias de padrão médio e popular, atendendo as necessidades da população, cujos rendimentos médios são de R$ 1.715,00 por pessoa. Cabe, portanto, à classe política fazer as escolhas certas.

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