Tenho a impressão de que os mais jovens não vão entender este título. Uma expressão que permeia toda a minha vida desde a infância. Era um costume antigo dizer que a situação não estava “sopa” quando não tínhamos boas notícias ou ocorria algo indesejado. Ao contrário, quando a “sopa cai no mel”, aí sim, significa que o “céu está para brigadeiro”, tudo às mil maravilhas; uma situação extremamente favorável.
Sopa nos remete a cuidado, carinho,
atenção, recuperação. Para todos os males, a famosa sopinha surge como um santo
remédio. Nutritiva, feita de legumes, é de fácil digestão; um prato típico da
vovó, especialmente, em lugares mais frios. Não existe carinho melhor que uma
sopinha bem quentinha, acompanhada de torradas. É tão bom que dá até para “ver”
seu cheirinho típico saindo com a fumaça. Se você tivesse ido ao dentista, à
noite estaria tomando sopa. Se tivesse saído de uma cirurgia, pode contar,
tomaria sopa por, pelo menos, uma semana.
Os costumes vão mudando, e as
expressões, juntos. O que era “da pontinha da orelha”, hoje pode ser
considerado “daora”. Mas, independentemente das gírias temporais, continuamos
com dificuldade de tirar o “pé do atoleiro”, a situação não está mesmo “sopa”
para ninguém.
Não abrimos mais os jornais,
acessamos às notícias pelo celular, e o que vemos é só lacração, cancelamentos
e muitas vezes, as malditas fake news. Estamos entrando numa terceira onda, ou
nos mantemos em maré cheia da pandemia? As notícias nem sempre vêm para nos
ajudar; é preciso muita atenção para entender os gráficos, as curvas, taxas de
mortalidade e letalidade, e saber diferenciá-las. Muitos especialistas são
entrevistados. Infectologistas, epidemiologistas, imunologistas, sanitaristas,
passaram a frequentar os telejornais e as redes sociais diariamente. E isso é
muito bom. Temos mais acesso às informações, o que estimula o debate nas rodas
de conversa. O problema surge quando, sem formação técnica necessária, a
população vira especialista. Apesar de estarmos há mais de um ano em situação
de pandemia e vivendo sério de risco de adoecermos, temos que entender que a
“sopa de letrinhas e números”, nos oferecida no atacado, não é nada fácil de
ser degustada e digerida. Fazer sopa é coisa de vó, exige dedicação,
experiência, cuidado e muito amor. Extrair números e concluir por condutas
clínicas e sanitárias é tarefa para os médicos.
Em tempos de crise, “cautela e canja
de galinha não faz mal a ninguém”. E o cardápio de hoje é vacina. Como dizia
minha mãe, goste ou não, acho bom você tomar, “com casca e tudo”. É
reconfortante porque protege a você, sua família e toda a comunidade. Aí sim,
será “sopa no mel”. E olha que a vacina não está dando sopa.
02
JUNHO DE 2021
MARCIO AURELIO SOARES
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