“Old MacDonald had a farm, E-I-E-I-O”


“Old MacDonald had a farm, E-I-E-I-O”

 

            Infelizmente nem todos, meninas e meninos, tiveram a oportunidade de estudar inglês. Uma das primeiras musiquinhas utilizadas nesse processo de aprendizagem, foi essa que eu uso como título desta crônica. Ela diz que o “velho Mac Donald tinha uma fazenda”. Na fazenda tinha vaca, porco, galinha, pato, cachorro, ovelha. As crianças cantavam e brincavam alegres, tudo acompanhado por imagens projetadas na parede mostrando um senhor vestido com macacão de brim azul – jeans – bochechas rosadas, feliz da vida e muito próspero. E hoje, para minha surpresa – nem tanto – descobri que sua primeira versão foi gravada por Elvis Presley em 1967, em ritmo de “twist”!

            O “twist” é uma dança inspirada no rock’n roll dos anos 1950-1960, que traduzindo para o português, quer dizer “torção”, pois exige muito balanço dos quadris e das pernas dos dançarinos. E de onde poderia ter surgido esse ritmo musical? Da África, vinda do Congo, trazida por escravos, no século XIX e popularizada por Chubby Checker nos Estados Unidos.

            O velho Mac Donald, o “twist”, e tantos outros ritmos musicais, e a África, fazem parte da formação cultural dos Estados Unidos. Assim como nós, eles esqueceram da África e, desde a década de 1950 exportam o seu “American Way of life” – modo de vida americano -; a felicidade pelo consumo, na maioria das vezes de supérfluos, referência de bem-estar para os demais países capitalistas ocidentais, uma verdadeira vitrine de uma sociedade perfeita, de fazendeiros prósperos e bem nutridos, felizes por seu gado e seus porcos e de uma indústria pujante que permitia emprego pleno e conforto para os seus.

            No Brasil do “velho Mac Donald”, e de seu filho McDonald’s da lanchonete, imitávamos(?) tudo. O estilo de vida “americano” foi incorporado pelo brasileiro. De chiclete a carros, passando pela Coca-Cola, nossa classe média, comprava(?) tudo.  As interrogações entre parênteses não significam dúvidas, mas um questionamento irônico se o tempo do verbo está correto, pois continuamos a imitar e a comprar no presente.

            Os anos 1930, até o início dos anos 1960, foram marcados pela construção do Estado brasileiro. A industrialização do País passou pela criação da siderurgia, da garantia de que o Petróleo era nosso, da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT -, do ensino técnico, das comunicações, com estímulo a produção cinematográfica, e à chegada do rádio e da TV, e inúmeras outras iniciativas que garantiam um projeto de desenvolvimento nacional sólido. Estávamos no caminho. Mas o “old Mac Donald” venceu. Os tempos são de desconstrução nacional. A palavra de ordem é vender as propriedades nacionais. Quantos aos “americanos”, seu estilo de vida fez água. Apesar de serem o país mais rico do mundo, com sua economia representando quase 25% da produção global de bens e serviços, essa riqueza não se traduz, para a sua população, em uma qualidade de vida proporcional. 17,8% dela está abaixo do nível de pobreza, é o 28º país em expectativa de vida, abaixo do Chile e de Portugal, 5º país com maior mortalidade infantil e o 10º com maior desigualdade de renda entre os países desenvolvidos. A musiquinha das aulas de inglês é ótima para impor sua cultura e seu projeto de nação. Com ela, vieram o consumismo, o bem viver supérfluo, a destruição de parte de nossos recursos naturais, de nosso projeto nacional e a tentativa de desfiguração de nossa cultura. Hoje, o governo americano tenta recuperar-se repetindo o modelo econômico do “New Deal” da década de 1930 ao injetar trilhões de dólares em programas de transferência de renda e criação de empregos. E, de novo, o governo brasileiro faz o contrário. Dá a eles o que é nosso, desindustrializando o país, não vacinando nosso povo, não criando empregos ou transferindo renda e cultivando o caos. O Jeca Tatu, de Monteiro Lobato continua entre nós, desvalido e abandonado à própria sorte, enquanto alguns poucos continuam indo para Miami fazer compras.

            Mas as ruas começam a entoar outro canto. Que a nossa diversidade musical prevaleça, que nossos recursos naturais continuem vivos, e que nossa juventude cante mais sambas, frevos e maracatus. Para a construção de um estilo de vida brasileiro, estamos construindo um projeto de desenvolvimento que passa por nossa reindustrialização, forte investimento em educação de qualidade e crescimento econômico com sustentação social.

É chegada a hora de cantarmos mais alto.

 

23 de maio de 2021.

 

Marcio Aurelio Soares

 


 

Nenhum comentário: