BUMBÍPEDE: Uma nova Característica do Homo Sapiens !

         A mãe, quarentona,do tipo zelosa, trouxe o filho adolescente à consulta. Um rapaz de 17 anos, 1,82 cm de altura e 110Kg de peso; de aparência saudável mas vocabulário curto e inexpressivo.

         Disse-me ter sido orientada a trazê-lo em função do peso e da pressão arterial algo elevada. Preocupação pertinente. Pesquisa de Orçamentos familiares do IBGE 2008/2009 revelou que 49% dos brasileiros acima de 20 anos estão acima do peso e 14,8% deles é obeso, vítimas de seu estilo de vida, que, tido como moderno, é aceito por nossa sociedade como parte do custo  a ser pago pelo conforto e facilidades trazidas pela tecnologia recente.

         Não podemos negar que o controle remoto, o celular e todas as parafernálias da informática determinaram outros valores às nossas vidas, há pouco jamais imagináveis. Ou será preciso refrescar a memória? É só olhar em volta:  tv via satélite, internet; só pra começar. Ninguém aqui pensa em voltar a viver como nos tempos da caverna; a não ser nos feriados prolongados quando aceitamos o convite do amigo pra conhecer seu sítio ou casa de campo. Lá, a sensação é plena de contato com a natureza. Mesmo que a floresta seja vista num longínquo horizonte e o piso da sala seja de cerâmica, o fato é que, "puxa vida, fazia tempo que eu não sentia esse cheirinho de ar puro; isso é que lugar saudável! Estava sentindo saudade desse contato mais direto com a natureza!". Mas que depressa, o coitado deita-se na rede da varanda e passa o dia a contemplar aquele que virou motivo de culto universal: o verde. Que integração, não é mesmo?!!

          Inimaginável é pensar que existimos na terra há 1,5 bilhões de anos, na esmagadora maioria desse tempo como nômades, justificando nossa condição de bípedes. Porém, muito pouco tempo foi preciso pra aceitarmos toda essa tecnologia dos últimos 50 anos que nos remeteu à vida sedentária,  convidando-nos a deitar, ou quando muito, sentarmos, numa postura contemplativa, diante da beleza da natureza. Incorporando novas tecnologias, colocamo-nos como expectadores passivos, ao nos desinserirmos  da natureza e deixarmos que as máquinas o façam por nós; assim, só nos comunicamos e nos deslocamos através delas, e não mais por nós, como antes. Após passarmos de 6 a 8 horas deitados dormindo, nos levantamos e, em poucos passos estamos diante de nossa condução que nos levará ao trabalho, onde, na maioria das vezes, passamos de 8 a 10 horas sentados, para, ao final dessa jornada, retornarmos à nossa residência, onde passaremos mais  horas sentados diante da tv para, em seguida, deitarmos na cama para um novo período em repouso. Foram poucos passos durante o dia. Nesta condição estamos desadaptados; a estrutura osteo muscular do Homens sapiens não aceita , e o coração, muito menos. As conseqüências são imediatas. Em função disso, novas drogas são sintetizadas e vêm em nosso auxílio. Mas no fundamental é que vivemos uma síndrome desadaptativa que determina prejuízos importantes para a nossa saúde.

Quanto à tecnologia e à ciência, sejam bem vindas. E quanto a nós, usar as pernas é uma dica; e com isso, quem sabe, manter os calos nos pés...
                                     

Dr. Marcio Aurelio Soares            

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