Mal
de Alzheimer, uma doença e outras histórias
Por
Marcio Aurelio Soares *
O
Alzheimer é uma doença crônica, progressiva e letal, descrita, a
primeira vez, pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer. Inicia-se com
perda da memória, confusão mental, irritabilidade e agressividade,
até que evolui, em sua fase terminal, para a incapacidade total de
desempenhar as mais simples tarefas, mantendo os pacientes acamados
até a morte, o que, em geral, acontece de 8 a 10 anos depois de seu
diagnóstico. Calcula-se que no Brasil existam cerca de 1 milhão de
doentes diagnosticados.
Por
seu caráter demencial, é uma doença que atinge e exige o
compromisso da família, diretamente, envolvida com o doente. Este,
com a progressiva deterioração das funções cerebrais, perde o
contato com a realidade que o cerca, desenvolvem confusão mental,
apresentando, em alguns casos, comprometimento importante da
cognição, ou seja, com perda da consciência de si próprio e dos
outros.
Com
a progressão da doença, aumentam, também, as dificuldades para os
familiares envolvidos nos cuidados de um doente que mantem um
relacionamento indiferente, agride, não os reconhece e não valoriza
seus esforços. Para tanto, esses cuidadores devem estar preparados,
física e psicologicamente, para lidar com esta situação demencial.
Seu
tratamento ainda é paliativo pois não temos, até o momento, sua
cura definitiva. Inúmeros estudos são realizados, em todo o mundo,
a procura dos mecanismos causadores da doença e de sua cura. Há 10
anos, Henry Engler, médico neurologista uruguaio, conseguiu, após
anos de pesquisa, detectar no cérebro a proteína amilóide que
destrói os neurônios e causa a deterioração da memória. Tal
descoberta é considerada o trabalho mais importante no estudo da
doença depois que Alzheimer a descreveu em 1906, tendo sido indicado
ao Premio Nobel de Medicina em 2008.
Engler
desenvolveu
suas pesquisas
na Universidade de Uppsala, na Suécia, onde se formou em medicina,
após ter ficado preso por 13 longos anos, 11 deles em isolamento
completo, onde foi submetido a tortura física. Militante do
grupo guerrilheiro Tupamaro, organização clandestina de esquerda
que atuou no Uruguai de 1960 a 1970, do qual foi um dos principais
líderes, foi responsabilizado pela organização de assaltos e
sequestros, sendo um dos acusados pela morte de Dan Anthony Mitrioni,
oficial da CIA dos EUA relatado como responsável pela formação de
centenas de oficiais militares e policiais em técnicas de tortura.
Em
recente entrevista à imprensa, Engler, afirmou: “ Na luta para
superar a si mesmo, perdem-se os pensamentos de ódio e rancor e a
solidariedade se transforma em uma forma de satisfação permanente.
Creio que também se pode sobreviver pelo ódio, mas assim não se
pode encontrar a felicidade...Hoje somos loucos, mas loucos de
sonho”.
Que
assim seja.
*
Médico sanitarista
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