A Seleção Brasileira é do Brasil?


A Seleção Brasileira é do Brasil?

 

O time de futebol liderado pelo técnico Tite, representa oficialmente a CBF – Confederação Brasileira de Futebol, órgão dirigente máximo do futebol no Brasil. Sem qualquer relação jurídica com o governo brasileiro, a CBF é uma associação privada constituída pelas federações estaduais. A adesão ao futebol cresceu tanto no mundo, que se tornou o esporte mais popular do planeta, o que Charles Miller, ao final do século XIX, jamais poderia imaginar.

 

A sua grandiosidade está na quantidade de atletas que praticam o esporte e nos números de torcedores e torcidas organizadas nos quatro cantos do planeta, que, calcula-se, faz movimentar mais de cem bilhões de reais, e o jogador Neymar ganhar algo em torno de 15 mil reais por hora.

 

O futebol se transformou de uma atividade esportiva em uma das maiores indústrias que chega a movimentar valores maiores que o PIB – Produto Interno Bruto – da metade dos países filiados à ONU – Organização das Nações Unidas.

 

A peça fundamental do futebol que é o jogador, não se limita mais a jogar com a bola dentro das quatro linhas do campo gramado. Além disso, ele passou a vender sua imagem num mundo cada vez mais midiático.

 

Sempre presentes nas mídias, Neymar e alguns outros transitam em muitos territórios e ditam hábitos e costumes; e, por causa deles, os clubes que os contratam atraem novos patrocinadores, recebem mais por cotas de TV, aumentam a receita de estádios e conseguem vender mais produtos licenciados, como chuteiras, escolinhas de futebol, canecas e toda bugiganga que se possa imaginar. Tem muito dinheiro envolvido nisso tudo e aí a torcida torna-se outra.

 

Nas últimas décadas, todos os presidentes da CBF eleitos pelas federações estaduais estiveram envolvidos em corrupção, foram banidos do futebol pela FIFA – órgão internacional de regulação do esporte – e, até mesmo, presos. João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marín e Rogério Caboclo. Este último foi afastado recentemente por denúncia de uma funcionária da confederação por assédio moral e sexual.

 

Conta a história que Preguinho (João), jogador do Fluminense, foi o autor do primeiro gol da Seleção Brasileira em Copas do Mundo, no Uruguai, em 1930. Amador, mesmo depois que o esporte foi profissionalizado, nunca admitiu receber dinheiro por suas façanhas, que também passavam pela natação. Seu irmão mais novo, Mano (Emmanuel), também era jogador de futebol e teria morrido em consequência de uma bolada na cabeça durante um jogo. Ambos eram filhos de Coelho Neto, cronista, romancista, crítico de arte, teatrólogo e membro fundador da ABL – Academia Brasileira de Letras.

 

Segundo o grande jornalista esportivo Luiz Mendes, nos idos do início do século passado, ir ao estádio era um ato de elegância, nas Laranjeiras, estádio do Fluminense. As mulheres usavam vestidos de alta costura, chapéus, luvas; mesmo que a temperatura no Rio de Janeiro estivesse por volta dos 40 °C.

 

Nas arquibancadas, os homens usavam a palheta, um chapéu de palha muito comum na época. Os diretores do clube, vestiam-se de fraque e cartola. Imaginem! Tendo os filhos participado de um jogo no dia anterior, em uma de suas crônicas para o jornal, Coelho Neto teria cravado a expressão “torcedora” e “torcedor” ao se referir às mulheres que torciam suas luvas e aos homens que torciam seus chapéus encharcados de suor pelo calor e pela ansiedade do jogo ganho pelo Fluminense nos últimos instantes da partida. Quanto aos dirigentes de futebol, passaram a ser chamados de cartolas do futebol. Até hoje um dos símbolos do tricolor carioca.

 

Preguinho fez história no Flu e no futebol. Coelho Neto tornou-se um imortal das letras. E o Neymar e os seus companheiros de Seleção Brasileira, qual legado nos deixarão? O futebol é do Brasil, mas não tenho certeza quanto à Seleção Brasileira. Mesmo sem usar chapéu ou luvas três quartos, está difícil torcer.

 

12 de julho de 2021.

 

Marcio Aurelio Soares

Brincadeira sem hora

 



Visitas regulares aos urologistas são indicadas a homens a partir dos 50 anos.

Certos tipos de brincadeiras são bem típicas de rodas masculinas, principalmente quando acompanhadas de uma cervejinha. Isso é muito bom e, como dizia meu pai, “ajuda a desopilar o fígado”. 

 

Os mais jovens devem estar se perguntando que expressão é essa. Se o meu pai já a utilizava, imaginem o quanto ela é antiga. Desopilar o fígado significa combater o mau humor, se distrair.

 

Há milênios, o fígado é relacionado às emoções e ao excesso de raiva. Para a medicina tradicional chinesa, o estado de um órgão afeta as emoções e as emoções afetam o estado de um órgão. O coração relaciona-se à alegria, o baço ao pensamento e preocupação, o pulmão à tristeza, o fígado à raiva e o rim ao medo. 

 

Já para a medicina ocidental, doenças como a cirrose e a hepatite podem se agravar e desencadear um distúrbio chamado encefalopatia hepática, estado clínico grave que pode gerar distúrbios de personalidade, agressividade e comportamento rude. Isso porque o fígado tem como uma das funções a excreção de toxinas, de substâncias presentes em algumas drogas e da bilirrubina, que dá cor característica à bile. 

 

Cólera vem do grego kholé que significa bile; assim, colérico é quem tem diarreia biliosa ou um “desarranjo biliar”. Parece complicado, mas não é. Ao estudar as doenças e as origens de seus nomes, vamos entrando em um mundo muito curioso e fascinante e entendendo a evolução do conhecimento humano. A doença infecciosa cólera, cuja principal característica clínica é uma profusa diarreia, tem esse nome porque os antigos relacionavam a sua diarreia à bile. 

 

Estava dizendo, brincar, ainda mais para quem já é adulto, ajuda muito a afastar o mau humor e esses estados coléricos, hoje tão comuns em algumas pessoas, especialmente, quando se fala de política, uma má política, é verdade. E não me irrite! rs

 

Nós, homens, brincamos muito quando tratamentos da prevenção às doenças da próstata, órgão masculino importante para a fertilidade ao produzir parte do sêmen que nutre e protege os espermatozoides. As piadas já são famosas. Basta um amigo fazer 50 anos que um engraçadinho vem com aquela famosa piada: “Não esqueça de mandar flores para o seu urologista”. 

 

Na minha opinião, essa descontração, ajuda aos mais tímidos entenderem a importância do toque retal como medida preventiva, que está indicado para ser realizado em homens de 50 anos ou mais, mesmo sem sintomas de doença e, a partir dos 45 anos, naqueles que têm histórico de câncer de próstata na família antes dos 60 anos.

 

Ninguém vai ficar colérico com o amigo piadista; ao contrário, vai participar da brincadeira e brindar pela saúde de todos.


Marcio Aurelio Soares

Sobre o 3J em Santos e a participação dos militantes PDT.


 Sobre o 3J em Santos e a participação dos militantes PDT em Santos

 

São muitos os indícios de roubo e corrupção de Bolsonaro, e seus filhos; que se elegeu prometendo ao eleitor combater a corrupção e ser “contra tudo isso que está aí”.

O PDT identificou os desmandos do Presidente não é de hoje e já entrou com três pedidos de impeachment. Ciro Gomes, que foi colega de Bolsonaro na Câmara Federal, afirma que o deputado Jair Bolsonaro, pagou o valor de R$ 4,1 mil, em 11 idas a dois postos de gasolina do Rio de Janeiro, entre janeiro de 2009 e fevereiro de 2011 abastecendo em dois postos diferentes no mesmo dia, apesar dos muitos litros comprados, e, ainda, que teria abastecido no Rio de Janeiro mesmo quando registrou presença em Brasília. A ação interposta por um jornalista foi arquivada pelo STF por Bolsonaro ser Presidente da República. Que belo exemplo. Suspeito de roubo de gasolina, suspeito de roubo de vacina.

Não podemos admitir conviver com um Presidente que nega e negocia com vacinas. Pretendia vender a vida de milhões de brasileiros ao preço de um dólar por cada brasileiro vacinado.

Nós trabalhistas estamos indo às ruas mostrar para nosso povo que o Brasil tem jeito. Fomos o País que mais cresceu e se desenvolveu durante as décadas de 30, 40, 50 e 1960. Nosso chão é o mesmo e nosso povo continua rico de cultura. O problema está na política que desde então foi levada a uma polarização entre esquerda e direita, ditos comunistas e ditos capitalistas e, nessa história, o único que perdeu foi o povo, que continua vivendo as consequências da desigualdade social e econômica. Iremos sempre para as ruas levando os legados de Getúlio Vargas, João Goulart, Brizola e Darcy Ribeiro.

Neste último sábado em Santos e em todo o Brasil não foi diferente. Temos atraído mais e mais militantes dispostos a empunhar a bandeira da equidade, da fraternidade e da solidariedade.  Homens e mulheres, servidores públicos, comerciantes, profissionais liberais, todos muito entusiasmados por estarem participando da construção de um futuro melhor para o nosso País.


05   de julho de 2021


Marcio Aurelio Soares




A MORTE EXIGE SERENIDADE

 

O combate ao crime idem. A morte em combate ibidem. Mas não foi isso que assisti há pouco nas redes sociais e na grande imprensa. Sem essa de pensamento binário. Com inteligência, concluímos que não é o fato de se achar ruim a comemoração de um ser humano abatido, mesmo em combate, que se é a favor de bandido. Vivemos em um Estado de direito, ou não? Por mais evidente que fossem seus assassinatos, e tudo nos leva a crer que o tal Lázaro fosse realmente um criminoso psicopata, em um Estado democrático pleno, sua polícia não pode agir apaixonadamente por vingança e sentimento de justiça com as própria mãos. Me fez lembrar do governador descendo do helicóptero aos pulos pelo abatimento de um sequestrador por um “snaiper”. Devemos lamentar que não tenhamos conseguido prender um suspeito de crimes graves contra a sociedade e julgá-lo sob as forças da lei.

E quem está comemorando? No mais das vezes, o povo pobre, preto ou pardo, morador da periferia, alvo prioritário de programas de TV popularescos e políticos demagógicos que exploram o sofrimento, a violência e a angústia de pessoas menos avisadas. Assim a  roda da expropriação  e da exploração, de bens e valores, gira. Você invade o meu lugar com a justificativa de estar à procura de um bandido. Não apresenta mandado de busca e apreensão. Chega de repente, mete o pé na porta, entra sem avisar. Uma bala se perde, atinge uma grávida ou um adolescente. Mas você pensa, “não foi comigo”. Mesmo que tenha sido em seu lugar.

Falta muito ainda para termos a consciência da violência que nos sufoca e mata. Da grande violência que nos cerca. Os psicopatas, especialmente, se pobres, são novelescos e servem de “conteúdo” para o consumo coletivo. Os psicopatas que nos governam se apresentam de outras formas, mas elegantes, cujos nobres endereços, no mais das vezes, não são alvo de ação policial. Nesse caso, não se atira primeiro ou seus corpos são expostos ao delírio popular. Muita calma nessa hora, quero todos presos e julgados perante a lei.

Nosso povo é vítima de violência dupla. Quando vê transgredido seus direitos coletivos pelos agentes do Estado e quando vive e testemunha a violência do crime e da miséria que o cerca. 

Enquanto não tivermos um Estado cuja Justiça seja instrumento de reparações, continuaremos comemorando a justiça feita com as próprias mãos. Quero viver numa nação pródiga em leis, cuja sociedade seja protegida e que seu povo receba educação de qualidade, suficiente para que desenvolva uma massa crítica à sua fragilidade. Que consiga se preservar a se satisfazer com a violência que atinge o outro, mesmo que fora de seu quadrado, mas dentro de seu círculo de vida.

 

28 de junho de 2021

 

Marcio Aurelio Soares


 

  








O POVO É O ANFITRIÃO

 

                Dia 19 de junho de 2021 ficará marcado por termos atingido 500 mil mortos pelo coronavírus. Luto, sofrimento e angústia, foram os sentimentos vividos por mais da metade da nossa população. Os que ficaram órfãos, viúvas, sem o amigo, a mãe, o vizinho, ou aquela pessoa que admirava, o professor da escola, o pastor ou o padre, o líder comunitário; enfim, o sentimento de perda tem sido grande e doloroso. O de impotência também. Não à toa, 93% querem ser vacinados imediatamente. Foi o que mostrou uma pesquisa realizada pela companhia global Ipsos, denominada “Covid-19 Vaccination Intent”, publicada recentemente, que revelou a intenção da esmagadora maioria da população brasileira em se se vacinar contra a covid-19 o quanto antes.

                Assim, o brasileiro está descobrindo que não basta ter esperança e esperar, que temos que construir a nossa realidade, fazendo do luto um verbo conjugado no presente do indicativo. Ainda que o verbo descobrir esteja sendo conjugado no gerúndio, o inverno chegou impondo-nos a necessidade de nos aquecer com a energia transformadora da indignação por uma terceira de onda que grande parte dos especialistas afirmam que deve acelerar o número de óbitos. O Médico epidemiologista do Hospital Universitário da USP, Marcio Sommer Bittencourt é enfático ao declarar que não temos “perspectiva positiva” e que, segundo as projeções do Instituto de Métricas em Saúde da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, o Brasil poderá contabilizar quase 730 mil mortes por covid-19 até o final de setembro. Isso não é trivial. Não são jogos de palavras, disputas políticas mesquinhas.

                É o mesmo que chover no molhado dizer em que time o Presidente da República Jair Bolsonaro está jogando; não é o do brasileiro. Como não bastasse as bravatas ditas diariamente para embaçar uma realidade tão cruel, faz gol contra à ciência e os profissionais de saúde. Se nada fizesse ou quieto ficasse, seria menos pior. Sem liderança ou coordenação nacional, cabe a nós, profissionais, líderes comunitários, militantes de movimentos sociais ou de partidos políticos, chamar a população à ação.

                Na década de 1980, os estudantes, os trabalhadores, dos pobres à classe média; organizações da sociedade civil e sindicatos, todos nós fomos para as ruas. Reconquistamos a democracia formal, voltamos a eleger prefeitos, governadores e o presidente do País; tivemos de volta a liberdade de expressão e de imprensa. Naquele momento minha geração estava na rua, lutando por cada tijolo, por cada metro de chão.

                Mas não fizemos o dever de casa como deveríamos ter feito. Passamos três décadas e nos dispersamos; conquistamos o espaço e não o mantivemos. Não nos organizamos. Nos embrenhamos em uma sociedade de consumo e nossa felicidade passou a ser ditada pela moda. Deu no que deu. O que está dando. Num barco à deriva.

                Gerações se passaram, da felicidade de consumo anestesiante, chegamos ao luto de lutar; e, mais do que nunca, a poesia revolucionária de Geraldo Vandré se faz necessária, “vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”. Sejamos os anfitriões de nossas vidas. “Um novo tempo começou, apesar dos perigos”. O povo na rua é a única certeza de que podemos mudar e construir uma nova história, com presente e com futuro.

21 de junho de 2021 - Marcio Aurelio Soares



 

MOTOS E MORTOS

 

                Imaginem ir ao médico queixando-se de muito cansaço, dor no corpo e febre e sair do consultório com um tapinha nas costas e “não se preocupe, isso não é nada”. No mínimo, qualquer um ficaria inseguro. Outras pessoas passam a sentir a mesma coisa que você, umas pioram muito, outras tantas vão precisar de tratamento intensivo, os telejornais passam a informar o número de óbitos, que se mantém em mais de 2 mil vidas por dia, e seu médico continua a dizer, “não se preocupe. Isso é assim mesmo”. É evidente, que qualquer um de bom senso, trocaria de médico. Mas, se mesmo assim, uma parcela de pessoas, uma minoria, mesmo diante de pessoas enlutadas, passasse a se manifestar favoravelmente ao descaso e ao tapinha nas costas? Seria inimaginável! Mas é isso, exatamente isso, que está acontecendo.

                Tem gente que está indo para rua defender o descaso, a negligência e, pior, o deboche de um quadro, que se tornou ainda mais dramático pela omissão do presidente da República. Não se trata de ter opinião política divergente de A ou B. Estamos nos referindo a maior crise sanitária vivida pelo País, que, até o momento, nos tirou quase 500 mil pessoas, que eram pais, mães, filhos, sobrinhas, tios, amigos ou que de, alguma forma, era importante para alguém e cuja ausência nos entristece profundamente.

                Recebi uma mensagem pelo whatsapp, cujo conteúdo celebrava o “recorde mundial de passeata de motos...1.324.523 motos” no último fim de semana. É isso mesmo. Dizia a postagem que mais de um milhão de motos participaram do tal evento, recorde registrado no Guinness Book; e, ao final, se intitulava como a turma do bem, da luz; sendo essa a diferença entre a direita e a esquerda. Independente de como se intitulem, imaginar que tenham estado na manifestação motorizada mais de um milhão de motos, chega a ser ingênuo e infantil. Não. É pior. É desonestidade intelectual. Ou é burrice. Segundo o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) a frota total de motocicletas em São Paulo é de 1.064.595 veículos. E Departamento de relações Públicas para a América latina, nenhum título oficial foi registrado no Guinness World Records. Mais uma bravata.

Mas eu pergunto, o que é ser de direita ou de esquerda para essa gente? O que é ser do mal ou do bem? Temos muita diferença, quer seja do ponto de vista econômico e social, quer dos costumes. São diferenças também ideológicas. Mas quem pode ser contra a vacinação em massa em um País que tem o maior Plano Nacional de Imunização? Quem é contra a políticas públicas que permitam dignidade à vida, que estimulem a geração de empregos e distribuição de renda de modo que todas as pessoas que têm um coração batendo no peito possam comer?

                O que o motoqueiro da tal passeata estava defendendo? A vida?

                Eu quero vacina, emprego e dignidade para o nosso povo. Abaixo aos interesses mesquinhos de grupos, de um lado e de outro, que aprofundam uma polarização de opinião que não interessa a quem está desempregado, sem dinheiro para o aluguel e com fome. Vamos lutar pela vida construindo um projeto de desenvolvimento social em uma nação pródiga em riquezas naturais. Não somo pobres por destino, mas por projeto de uma minoria que, secularmente, sangra nosso chão e dele retira sua riqueza. É possível fazer diferente. Esse beco tem saída.

Marcio Aurelio Soares


Vamos passear?

 


Vamos passear?

 

            Atualmente com as restrições para aglomeração temos que pensar duas vezes aonde ir. De preferência em lugares abertos, arejados, de modo que evitemos as aglomerações. Já vivemos momentos piores. Há um ano, quando não tínhamos ainda muito conhecimento científico sobre o Sars-Cov 2 e a Europa nos indicava um futuro dramático, conseguimos manter uma taxa de isolamento de 60%, que deveria ter sido maior em face à necessidade de bloquearmos a transmissão viral. Sem uma liderança nacional forte que estabelecesse medidas efetivas para oferecermos vacinação em massa e sustento emergencial para desempregados e desvalidos – um terço de nossa população que vive abaixo da miséria – o governo federal insistiu em uma conduta medicamentosa substitutiva à vacina e quase estamos perdendo o fio da história. Perdemos muitos de nossos amigos e entes queridos e essa conta ainda vai ser paga. Não sei a CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito – terá força política para concluir por culpados. O fato é que a história é inexorável. Basta saber quem vai contá-la, as vítimas ou seu predadores.

            Por todo esse tempo, ouvimos falar em “serviços essenciais” que poderiam manter-se em atividade. Compreensível e evidente. Incluindo aí as farmácias, desde que respeitando regras específicas como manter álcool em gel à disposição e permitir não mais que 40% da ocupação de suas lojas.

Mas como temos em farmácias, não? Ou seriam drogarias? Parece que essas denominações – farmácia e drogaria - significam a mesma coisa, mas não é bem assim. Segundo o IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – “as drogarias são estabelecimentos de dispensação e comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens originais”. Já as “farmácias, são estabelecimentos de manipulação de fórmulas magistrais e oficiais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de dispensação e o atendimento privativo de unidade hospitalar”. Na prática, o que costumamos chamar de farmácia, são mesmo drogarias, pois não manipulam medicamentos, e vedem uma gama de produtos e estão mais próximas aos serviços prestados por uma loja de conveniência. Perfumaria, material de higiene, barbeadores, fraldas. As encontramos em quase todas as esquinas da cidade e estão sempre lotadas. Estive numa dessas esses dias. Apesar das restrições, parecia uma feira. As pessoas já se conheciam, já eram habitués da loja. Cada qual conhecia as prateleiras de ponta a ponta e, munidas de seus cestos – como nos supermercados – se serviam de shampoos, cremes, desodorantes, vitaminas, analgésicos. Eu via seus olhos brilhando.

Dizem que mais que drogarias, só mesmo lojas de colchão. Somos 425 mil residentes na cidade. Sabendo que os colchões têm 5 anos de garantia, teremos uma potencial venda de 17.000 colchões por ano ou 1417 colchões por mês. Mesmo que uma boa parte de nossa população não tenha acesso à compra de colchões novos, “os bonecos birutas” teimam em tremular à porta das lojas por todos os bairros.

            São tempos de restrições sociais e econômicas. Cabe ao Estado garantir acesso à medicação básica para toda a sociedade. Mas, para uns tantos, os passeios preferidos continuam sendo ir às compras, mesmo que seja de analgésicos, vitaminas e colchões. Prefiro andar de bicicleta na praia, faz bem para a mente e para o corpo. O sol transforma o colesterol na pele em vitamina D e eu ainda faço economia.

 

Marcio Aurelio

 

Traidor dos Brasileiros



Traidor dos Brasileiros

            O atual presidente da república recebeu quase 58 milhões de votos. Elegeu-se presidente com um discurso moralista, anticorrupção e prometendo acabar com a violência urbana. À época, a imprensa canalizava toda a indignação popular com a carestia e o desemprego sobre os ombros do partido político que governou por 14 anos e cujos militantes  foram apelidados de PTralha. E, mais que isso, bastava não ser apoiador do candidato da extrema-direita que era o suficiente para ser equiparado a um ladrão, batedor de carteiras. A sociedade se polarizou entre os corruptos e os combatentes da corrupção. Criou-se um estigma tão grande que boa parte  das vozes de oposição se calaram. Acuados, líderes políticos e empresários foram presos e linchados moralmente em praça pública. Sua militância apequenou-se. O embate se limitou ao campo jurídico. Por seis longos anos, vivemos um extensa novela com capítulos diários transmitidos pelos telejornais. Um verdadeiro massacre. Merecido? Deixo a pergunta.

            Ao contrário do senso comum que tenta nos convencer de que o brasileiro é indolente e não muto afeto às honestidades, somos um povo trabalhador. Mesmo diante de injustiças históricas que cavam um grande fosso social e econômico, o brasileiro busca o trabalho como caminho para a sua sobrevivência e abomina os maus feitos, encarnados na classe política, exatamente por aqueles que a domina e pretendem com isso afastar a população do centro do poder.

            Venderam gato por lebre. Ou você votaria em um político que tenha pago R$ 56.160,00 de gasolina num só dia? E que tal um candidato cujos funcionários tenham sacado R$ 551 mil em dinheiro vivo de seus próprios salários? E o Queiroz? Por onde anda o Queiroz? Ah, sim. Acharam o Queiroz! Mas e o dinheiro que ele depositou na conta da 1ª Dama? Foram 89 mil reais! Tá somando? Isso é só o varejo.

            Você não esperava por isso. Tenho certeza. Mas isso aconteceu porque não prestamos muita atenção no que o deputado falava e fazia durante seus 28 anos de Congresso. Preferimos achar que era só bravata, fanfarronice; mesmo quando na década de 1990 foi a TV defender “uma guerra civil com o assassinato de pelo menos 30 mil pessoas”, além de dizer que sonegava impostos e aconselhava a todos fazerem o mesmo. Lembram-se disso? A imprensa e as redes sociais estão cheias de registros desses tipos de depoimento. Está vivo em minha memória o dia que ele falou que só não estuprava uma mulher porque ela era feia, ou o dia que brindou a um famoso torturador. Achávamos que ele era louco. Hoje temos certeza que temos um Presidente louco.

            Não se sintam culpados. Ele é traidor. Você não! Saberemos ter um voto de equilíbrio.

 

07 de junho de 2021

Marcio Aurelio Soares

 

Não é sopa


Não é sopa

 

            Tenho a impressão de que os mais jovens não vão entender este título. Uma expressão que permeia toda a minha vida desde a infância. Era um costume antigo dizer que a situação não estava “sopa” quando não tínhamos boas notícias ou ocorria algo indesejado. Ao contrário, quando a “sopa cai no mel”, aí sim, significa que o “céu está para brigadeiro”, tudo às mil maravilhas; uma situação extremamente favorável.  

            Sopa nos remete a cuidado, carinho, atenção, recuperação. Para todos os males, a famosa sopinha surge como um santo remédio. Nutritiva, feita de legumes, é de fácil digestão; um prato típico da vovó, especialmente, em lugares mais frios. Não existe carinho melhor que uma sopinha bem quentinha, acompanhada de torradas. É tão bom que dá até para “ver” seu cheirinho típico saindo com a fumaça. Se você tivesse ido ao dentista, à noite estaria tomando sopa. Se tivesse saído de uma cirurgia, pode contar, tomaria sopa por, pelo menos, uma semana.

            Os costumes vão mudando, e as expressões, juntos. O que era “da pontinha da orelha”, hoje pode ser considerado “daora”. Mas, independentemente das gírias temporais, continuamos com dificuldade de tirar o “pé do atoleiro”, a situação não está mesmo “sopa” para ninguém.

            Não abrimos mais os jornais, acessamos às notícias pelo celular, e o que vemos é só lacração, cancelamentos e muitas vezes, as malditas fake news. Estamos entrando numa terceira onda, ou nos mantemos em maré cheia da pandemia? As notícias nem sempre vêm para nos ajudar; é preciso muita atenção para entender os gráficos, as curvas, taxas de mortalidade e letalidade, e saber diferenciá-las. Muitos especialistas são entrevistados. Infectologistas, epidemiologistas, imunologistas, sanitaristas, passaram a frequentar os telejornais e as redes sociais diariamente. E isso é muito bom. Temos mais acesso às informações, o que estimula o debate nas rodas de conversa. O problema surge quando, sem formação técnica necessária, a população vira especialista. Apesar de estarmos há mais de um ano em situação de pandemia e vivendo sério de risco de adoecermos, temos que entender que a “sopa de letrinhas e números”, nos oferecida no atacado, não é nada fácil de ser degustada e digerida. Fazer sopa é coisa de vó, exige dedicação, experiência, cuidado e muito amor. Extrair números e concluir por condutas clínicas e sanitárias é tarefa para os médicos.

            Em tempos de crise, “cautela e canja de galinha não faz mal a ninguém”. E o cardápio de hoje é vacina. Como dizia minha mãe, goste ou não, acho bom você tomar, “com casca e tudo”. É reconfortante porque protege a você, sua família e toda a comunidade. Aí sim, será “sopa no mel”. E olha que a vacina não está dando sopa.

 

02 JUNHO DE 2021

 

MARCIO AURELIO SOARES

“Old MacDonald had a farm, E-I-E-I-O”


“Old MacDonald had a farm, E-I-E-I-O”

 

            Infelizmente nem todos, meninas e meninos, tiveram a oportunidade de estudar inglês. Uma das primeiras musiquinhas utilizadas nesse processo de aprendizagem, foi essa que eu uso como título desta crônica. Ela diz que o “velho Mac Donald tinha uma fazenda”. Na fazenda tinha vaca, porco, galinha, pato, cachorro, ovelha. As crianças cantavam e brincavam alegres, tudo acompanhado por imagens projetadas na parede mostrando um senhor vestido com macacão de brim azul – jeans – bochechas rosadas, feliz da vida e muito próspero. E hoje, para minha surpresa – nem tanto – descobri que sua primeira versão foi gravada por Elvis Presley em 1967, em ritmo de “twist”!

            O “twist” é uma dança inspirada no rock’n roll dos anos 1950-1960, que traduzindo para o português, quer dizer “torção”, pois exige muito balanço dos quadris e das pernas dos dançarinos. E de onde poderia ter surgido esse ritmo musical? Da África, vinda do Congo, trazida por escravos, no século XIX e popularizada por Chubby Checker nos Estados Unidos.

            O velho Mac Donald, o “twist”, e tantos outros ritmos musicais, e a África, fazem parte da formação cultural dos Estados Unidos. Assim como nós, eles esqueceram da África e, desde a década de 1950 exportam o seu “American Way of life” – modo de vida americano -; a felicidade pelo consumo, na maioria das vezes de supérfluos, referência de bem-estar para os demais países capitalistas ocidentais, uma verdadeira vitrine de uma sociedade perfeita, de fazendeiros prósperos e bem nutridos, felizes por seu gado e seus porcos e de uma indústria pujante que permitia emprego pleno e conforto para os seus.

            No Brasil do “velho Mac Donald”, e de seu filho McDonald’s da lanchonete, imitávamos(?) tudo. O estilo de vida “americano” foi incorporado pelo brasileiro. De chiclete a carros, passando pela Coca-Cola, nossa classe média, comprava(?) tudo.  As interrogações entre parênteses não significam dúvidas, mas um questionamento irônico se o tempo do verbo está correto, pois continuamos a imitar e a comprar no presente.

            Os anos 1930, até o início dos anos 1960, foram marcados pela construção do Estado brasileiro. A industrialização do País passou pela criação da siderurgia, da garantia de que o Petróleo era nosso, da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT -, do ensino técnico, das comunicações, com estímulo a produção cinematográfica, e à chegada do rádio e da TV, e inúmeras outras iniciativas que garantiam um projeto de desenvolvimento nacional sólido. Estávamos no caminho. Mas o “old Mac Donald” venceu. Os tempos são de desconstrução nacional. A palavra de ordem é vender as propriedades nacionais. Quantos aos “americanos”, seu estilo de vida fez água. Apesar de serem o país mais rico do mundo, com sua economia representando quase 25% da produção global de bens e serviços, essa riqueza não se traduz, para a sua população, em uma qualidade de vida proporcional. 17,8% dela está abaixo do nível de pobreza, é o 28º país em expectativa de vida, abaixo do Chile e de Portugal, 5º país com maior mortalidade infantil e o 10º com maior desigualdade de renda entre os países desenvolvidos. A musiquinha das aulas de inglês é ótima para impor sua cultura e seu projeto de nação. Com ela, vieram o consumismo, o bem viver supérfluo, a destruição de parte de nossos recursos naturais, de nosso projeto nacional e a tentativa de desfiguração de nossa cultura. Hoje, o governo americano tenta recuperar-se repetindo o modelo econômico do “New Deal” da década de 1930 ao injetar trilhões de dólares em programas de transferência de renda e criação de empregos. E, de novo, o governo brasileiro faz o contrário. Dá a eles o que é nosso, desindustrializando o país, não vacinando nosso povo, não criando empregos ou transferindo renda e cultivando o caos. O Jeca Tatu, de Monteiro Lobato continua entre nós, desvalido e abandonado à própria sorte, enquanto alguns poucos continuam indo para Miami fazer compras.

            Mas as ruas começam a entoar outro canto. Que a nossa diversidade musical prevaleça, que nossos recursos naturais continuem vivos, e que nossa juventude cante mais sambas, frevos e maracatus. Para a construção de um estilo de vida brasileiro, estamos construindo um projeto de desenvolvimento que passa por nossa reindustrialização, forte investimento em educação de qualidade e crescimento econômico com sustentação social.

É chegada a hora de cantarmos mais alto.

 

23 de maio de 2021.

 

Marcio Aurelio Soares

 


 

A segunda lei de Newton


 

A segunda lei de Newton

           

            Isaac Newton viveu na segunda metade do século XVII. Matemático, físico, astrônomo; é reconhecido até hoje como um dos cientistas mais influentes de todos os tempos, e como uma figura central no que foi chamado de Revolução Científica, quando na esteira do renascentismo, surgiu a ciência desatrelada à Teologia. Newton, com sua genialidade, afirmou que, “a força resultante que atua sobre um corpo é igual ao produto de sua massa pela aceleração”. O que significa dizer que quando um corpo está sujeito à ação de uma força, este adquirirá uma aceleração na mesma direção e no mesmo sentido da força resultante. Lembrei disso ao cruzar a rua em que moro e ver três rapazes empurrando um carro que se encontrava parado enguiçado. Já pensaram se cada um deles empurrasse o carro em direções diferentes? Certamente o carro não teria saído do lugar. Quem sabe estivesse em pedaços, face suas condições de uso e manutenção! Coisa de desenho animado!

            Este conceito ajudou a humanidade a chegar aonde estamos.  Sua formulação não surgiu de um sonho na madrugada, mas decorrente de observações feitas anteriormente por Aristóteles sobre a movimentação dos corpos e de Galileu Galilei sobre a inércia.

            O Materialismo Histórico é um método de estudo da sociedade. Elaborado, inicialmente,  por Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX, “procura as causas de desenvolvimento e mudanças na sociedade humana nos meios pelos quais os seres humanos produzem coletivamente as necessidade da vida”. Esta é uma concepção social filosófica, que diz ser o modo de produção econômico o fator determinante para o desenvolvimento histórico e sociocultural de uma sociedade. Para este pensamento, o modo de produção capitalista se define na relação da infraestrutura – trabalho e relações comerciais -, com a superestrutura – ideologia: governos, leis, costumes e tradições; onde a primeira é determinada pela segunda.

            Duas formulações, física e socioeconômica, que nos trazem a beleza da evolução científica, do estudo e do conhecimento. E do prazer de estudar. Você pode até discordar  delas mas vai ter que apresentar justificativas muito fortes para tanto, e demonstrá-las experimentalmente, de forma que sua ideia possa ser reproduzida. O segundo passo é vê-la aprovada pelo mundo acadêmico e tê-la publicado em revistas científicas. O fim, sua consagração com a nomeação ao Prêmio Nobel! Como podem ver, nada muito complicado. Mas, como somos “normais”, nos resta entender a ciência e aplicá-la em nossa vida. Algumas vezes fazemos isso intuitivamente, como os rapazes solidários ao proprietário do “fusca” enguiçado. Em outras vezes, poderemos ser ajudados pela conhecimento científico acumulado pela humanidade até agora. O certo é que em nosso meio, a grande maioria não tem acesso às informações como poderiam e deveriam ter. “A informação, a cultura, o estudo, valem ouro”, dizia, insistentemente, meu pai, E eu que o achava um chato!

            Muitos não sabem, mas a política também é uma ciência; para uns até uma arte. Relacionada ao entendimento entre pessoas com vista a organização, direção e administração da vida em comunidade em uma democracia. Esse termo surgiu na Grécia Antiga, aproximadamente no século VI a.c. Os filósofos gregos entendiam o seu exercício como a principal característica do homem livre. Para eles, a política tinha como objetivo a justiça comum a todos.

            Para nós também. Física, sociologia, economia e política são resultados de estudos e experimentações. Tentemos fazer isso, o máximo que pudermos. Assim poderemos, por algum aspecto, voltar aos tempos da Grécia Antiga e construir uma “vida melhor e mais virtuosa”, como diziam; e, com menos “memes”, fanatismos e idolatria de alguns poucos incultos, insipientes, que insistem em se passar por maioria.        Façamos como Newton. Concentremos nossas energias em uma mesma direção. Nosso país precisa acreditar em si próprio, com toda a sua diversidade cultural e seus recursos naturais. Nosso desenvolvimento não cairá do céu ou virá de fora. Está aqui dentro. Temos um projeto de nação, trabalhista – desenvolvimentista. Juntos, com força, aceleraremos nosso trem, formado por uma grande locomotiva e muitos, muitos, vagões, que é isso que somos.

25 de maio de 2021

Marcio Aurelio Soares

O DEVER DE ESPERANÇAR

 




Sou um conversador no estrito significado da palavra. Conversar é estabelecer diálogos e exige três condições básicas que são a mensagem, o emissor e o receptor; e num movimento de “ping-pong”. Não fosse essa troca, seria um monólogo. Não é difícil encontrar pessoas que têm um desses papeis mais acentuados do que os outros. Aquele que fala mais e pouco escuta é o mais famoso. Esse “fala pelos cotovelos”, expressão antiga que nos ajuda a entender o perfil daqueles que falam muito e gesticulando, com os braços, mãos e… cotovelos.

Conversar é um excelente exercício para entender o outro, o receptor; e para nos fazer entendido, o emissor. Por isso gosto de escrever “conversando”, pois me dá a nítida impressão de que quem está lendo meus escritos está me ouvindo e escrevo porque os ouço.

PARA ALÉM DO CERTO E DO ERRADO

Cada dia tenho uma escuta nova. Uns aliviados como se o “corona” já não estivesse mais entre nós e fosse coisa do passado. Que intimidade horrível com esse que é nosso algoz e nem vida própria tem! Estamos cansados, só falam disso, o tempo todo. Temos que trabalhar. Como poderei me sustentar sem sair de casa? Usando máscara, como grande parte da população, a maioria se pergunta, como nos aglomerar, ir a festas, se estamos em plena pandemia?

É preciso ouvi-los com muita atenção. Cada um de nós tem suas necessidades e expectativas. O certo e errado está longe de ser o que é certo ou errado para todos. Nunca tínhamos vivido coisa parecida. Estamos aprendendo a ser e ter uma nova vida, talvez menos latina, com menos abraços e beijos, e mais cotovelos para falar.

As vivências presenciais estão restritas e a internet faz parte de nosso dia. As “lives” se reproduzem, os “memes” nos encaram a todo momento, vindos de uma telinha que passa o dia em nossas mãos. “lives” e “memes” são termos que há pouco desconhecíamos e nos distanciam de nossa linguagem nativa, corroendo devagarinho nossa identidade. As mensagens são imitadas e num fluxo digital “viralizam-se” e nos atingem sem percebermos, como um vírus de verdade.

UM NOVO TEMPO, UMA NOVA LUTA

Verdades, mentiras. Certo, errado. São tempos de convicção por imitação. São tempos de manchetes e pouco conteúdo. É preciso conversar. Ouvir e falar. E estudar. Compreender que as mensagens exigem interlocutores mais perspicazes e atentos. E o silêncio ser interpretado como uma fala muda. De culpa? Observação? Dizia o grande líder político Leonel de Moura Brizola:

“Eu não uso a palavra para esconder, mas para revelar meus pensamentos”.

E hoje, sinto que precisamos, para além da política de poder, falar de esperança. Mas não só da esperança do sonho, de nossa fé, mas também da força para alcançar, de nos fazer resilientes. São tempos de luta. O obscurantismo não vencerá a civilização. O autoritarismo não vencerá a democracia e a liberdade. É preciso esperançar!

Barriguinha de chopp. Os humanos que se transformaram em 'bumbípede'






Para saber se sua barriguinha passou dos limites, temos um boa ferramenta, a fita métrica.

Não faz muito tempo na história da evolução de nossa espécie, que homens, para sobreviver, saiam para caçar e pescar, o que lhes exigia grande mobilidade e força muscular. Mas isso faz parte de um passado. Hoje “caçamos” e “pescamos” nossa sobrevivência no computador. E, nem tanto mais neste que já foi um equipamento que ocupava um andar inteiro de um prédio, mas sim, no telemovel, o que nós brasileiros chamamos de celular. Dizem os técnicos que esse termo usado por aqui está errado, porque o telefone não é celular, mas sim o tipo de rede utilizado por ele. Isto é uma metonímia. Foi criada uma substituição lógica de um termo por outro. Como sou de família portuguesa dos Açores, uso o ZapZap no telemovel. 


Foi essa tecnologia, em especial, que nos transformou em “bumbípedes”. O mundo digital é preguiçoso, nos remete à cadeira, ao sofá e até à cama. Em pouco tempo não precisaremos mais, se quer, pedir pizza e recebê-la à porta. Bastará um toque na telinha e o jantar estará posto à mesa. A tecnologia 4G permite essa precisão o que nos fará ficar, cada vez mais, com o traseiro sentado.


Sem atividade física natural ou provocada, surge a barriguinha. E o que para uns era um charme hoje sabemos que é um risco para a saúde. Esse volume extra no abdome é sinal da presença de gordura visceral, tecido adiposo que se acumula nas vísceras e entre elas. Fígado, pâncreas, intestinos, ficam todos gordinhos. Ou você acha que engordamos só para fora? Antes fosse só uma questão estética. Dependendo da quantidade, essa gordura em excesso pode se transformar em doença, pois geram inflamação no organismo e interferem na regulação de certos hormônios, na absorção de nutrientes, no nível de colesterol e mesmo na fertilidade. Essa interação nociva está estreitamente ligada ao aumento no risco de doenças cardiovasculares, como infarte e AVC – derrame, pressão alta, diabetes tipo 2; o que nós médicos chamamos de síndrome metabólica. As estatísticas mostram que neste caso a mortalidade por doença cardiovascular aumenta em até três vezes. Acabou o charme!

 

Para saber se sua barriguinha passou dos limites, temos um boa ferramenta, a fita métrica. Se sua circunferência abdominal estiver maior que 102 cm para os homens e 88 cm para as mulheres, você não tem opção. Tire o tênis da sapateira, a bicicleta da garagem e vá se mexer. Esqueça o celular, digo, o telemovel na gaveta por uns instantes e vá pedalar. Como dizia meu pai, desopila o fígado, faz bem à mente e ao corpo. 


Feito isso, e com o colesterol e a glicemia em dia, que tal uma cervejinha e um bom papo? Porque ninguém é de ferro. Uma geladinha e comodidades na medida certa não fazem mal a ninguém.