Os
médicos, a exemplo de outras categorias profissionais e movimentos sociais,
também estão nas ruas, e, chamam o povo à marcha por um Sistema Único de Saúde
(SUS) com mais qualidade e universal.
Este é um
momento histórico. O gigante acordou, e luta não simplesmente contra um
governo. O torcedor diante de sua paixão pelo futebol dá um exemplo de
cidadania e brasilidade cantando o hino nacional, após se calar o possante
sistema de som do estádio. O futebol, este esporte que sempre foi acusado de
alienador, desta vez agregou a massa entorno de um ideal de justiça e
fraternidade, até hoje perseguido pela humanidade.
Segundo o
estudo “Demografia Médica no Brasil”, realizado em outubro de 2012 pelo Conselho
Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo (CREMESP), o Brasil possuía 388.015 médicos distribuídos em todo o
território nacional, o que se aproxima dos 400 mil médicos e atinge a taxa de 2
médicos por 1000 habitantes.
De 1970 a
2010, a população brasileira cresceu 101,84%. Neste mesmo período, o número de
médicos no país cresceu mais de 550%. Esse aumento expressivo do número de
profissionais se deu em função da conjugação de fatores relacionados à evolução
da demanda de serviços, como o envelhecimento da população, garantias de
direitos sociais, incorporação de tecnologia médica, e ainda à expansão do
sistema de saúde e surgimento de mais postos de trabalho médicos. Se levarmos em conta o número de médicos que, de
uma forma ou de outra, deixam a profissão, e o número daqueles que se formam,
temos a entrada de oito mil médicos por ano no País.
As
diferenças regionais ainda são grandes. No sudeste a relação de médicos por
habitante é de 2,67. Já no sul, a relação é 2,09 por habitante. No centro oeste
esta relação cai para 2,05. No nordeste, a queda é drástica: 1,23. E, no norte,
o número é assustador e chega a 1,01. Como a Organização Mundial de Saúde (OMS)
preconiza como parâmetro ideal de atenção à saúde da
população a relação de um médico para cada mil habitantes, chegamos facilmente
a algumas conclusões. A título de comparação, em Santos, a relação é de seis
médicos por 1000 habitantes, ou seja, temos um doutor para cada 167 santistas.
Por que
estamos indo para as ruas? Porque provamos, estatisticamente, que o problema do
SUS não se dá por conta do número de médicos, apesar de existirem desigualdades
regionais importantes, especialmente, se filtrarmos esta estatística por
município.
O acesso
à saúde depende de uma equipe multiprofissional (enfermeiros, psicólogos,
fisioterapeutas, entre outros profissionais) com conhecimentos científicos
muito específicos, tecnologia e infra-estrutura física apropriada. Como o
cozinheiro que não consegue confeccionar uma refeição sem alimentos, o médico,
quando muito, conseguirá oferecer conforto aos que sofrem, mas terá extrema
dificuldade para realizar um diagnóstico precoce se à sua prática não tiver
acesso a um laboratório, por exemplo.
Assim,
mais que considerar o quantitativo de profissionais, cabe aos gestores públicos
do SUS avaliar todos esses vieses e levar essa discussão a sociedade com
transparência e verdade. Por isso o convocamos às ruas, para lutarmos por um
SUS que atenda às necessidade reais da população e não só daqueles que o dirige.
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