A tragédia da vida privada (e pública)

Conceitos mudam muito pouco em um curto espaço de tempo. Como o ponteiro do relógio, que não param, mas não os sentimos, a moral dos nossos tempos também se transforma sem  percebemos.

O objetivo deste artigo não é julgar a moral sob aspectos religiosos. O intuito é analisá-la como quer o seu real significado. Moral são os costumes que norteiam uma sociedade. O conjunto de regras adquiridas através da cultura, da educação, da tradição e do cotidiano. Orientam o comportamento humano dentro de uma sociedade, como princípios de honestidade, respeito e bondade, virtudes que acreditamos ser da natureza da espécie humana, mas na verdade são valores adquiridos durante nossa trajetória de milhares de anos de evolução.
 

A moral é dependente da tradição, de acordo com sociedade e a época. Enfim, não são valores definidos e petrificados.
 

Durante a Revolução Francesa vários cidadãos foram vítimas da guilhotina por conspirarem contra a criação da república. No Brasil, a ditadura militar torturou e matou milhares de pessoas, com o pretexto de defender o País da influência comunista. Em ambos os casos, a moral dos grupos opressores justificava, sem sentido, tais atrocidades.
 

A sociedade de hoje vive momentos de incertezas. Conceitos de moral são debatidos, frequentemente, entre antropólogos, sociólogos, filósofos e especialistas em geral.
 

Nos dias de hoje, acompanhamos a involução da humanidade. Motoristas dirigem bêbados sem remorso, a ponto de protagonizarem barbáries como o fatídico atropelamento do jovem a caminho do trabalho, arrancando-lhe o braço, que foi jogado ao esgoto. Sequestra-se e asfixia-se uma jovem, cujo corpo é esquartejado e jogado aos cachorros famintos.
 

Dois exemplos emblemáticos da violência que atinge todas as camadas da sociedade, das baixas às mais altas. E sabe qual a justificativa? Nenhuma. Nenhum interesse econômico ou ideológico esta em jogo, apenas parcos sentimentos de vaidade, rebeldia, imprudência, ciúmes, vingança.
 

Denúncias de corrupção e suborno nas mais altas esferas governamentais são, cada vez mais, comuns. Servidores públicos que recebem fartas quantias em dinheiro das mãos de fornecedores. Diretores de órgãos federais reguladores que transitam na iniciativa privada, de um lado a outro, como se isso fosse algo indiscutível e banal, afinal só na mente destas pessoas os interesses do Estado são os mesmos da iniciativa privada, certo?
 

Por que haveria de ser diferente? Os tempos são outros. Arrancam-se braços, esquartejam-se mulheres e homens, rouba-se o Estado, transita-se entre o público e o privado com tanta naturalidade que, tal qual o ponteiro do relógio, como disse anteriormente, a moral mudou e só agora estou percebendo isso.

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