Doutor robô?

O paciente vai ao consultório e, antes mesmo de expressar o que sente, pede que seu médico solicite exames. “Olá doutor, solicite todos os exames que puder”. Essa é a rotina. A preocupação maior das pessoas, hoje em dia, não é mais relatar ao médico suas dores, angústias e incertezas; preferem consultar as máquinas.

Não temos como negar as maravilhas que a tecnologia proporciona. Já estão incorporadas em nosso dia a dia. Ajudam no trabalho, nas comunicações, na cozinha, até nos painéis dos carros. Na medicina e nos exames complementares, o cenário não é diferente. Hoje, o neurologista necessita da precisão da ressonância magnética. O cardiologista, das imagens do eco-cardiograma. O angiologista, do duplex scan venoso. Enfim, a tecnologia trouxe à medicina grandes possibilidades diagnósticas e de tratamento.

Cometemos, assim, um erro crasso. Encontramos, nestes exames, a resposta para todos os nossos males e fazemos dele a base do atendimento em saúde. Ontem, hoje e sempre, a máquina, em tempo algum, substituirá o homem.

Planos de Saúde pagam mais por exames do que por uma consulta médica.

Por mais que a sociedade valorize a realização de tomografias computadorizadas de crânio com contraste, sabemos que 85% dos problemas de Saúde são resolvidos por equipes de profissionais com boa formação, incluindo o Agente de Saúde Comunitário.

O agente está em contato direto e permanente com as pessoas e os núcleos familiares sob sua responsabilidade. Conhece seu público, casa a casa, morador a morador, e são capazes de se antecipar às necessidades. Entendem as angústias, os medos e demais determinantes causadores de doença. Vivemos o momento em que não são mais bactérias e parasitas os maiores causadores de doenças. Hoje, morremos de ansiedade, angústia, má alimentação (excesso de comida industrializada), sedentarismo, violência. Quanta ilusão achar que máquinas poderiam traçar este diagnóstico!

Aos gestores de Saúde pública, a prioridade é organizar o “postinho de saúde de bairro”. Com ênfase na Atenção Primária a Saúde (APS), podemos garantir um sistema universal para acesso aos cuidados com a Saúde, como direito de todos e responsabilidade do Estado, conforme escrito na Constituição Brasileira, desde 1988.

Desta forma, o pronto-socorro funcionará somente para atendimentos de urgência, especialistas serão encarregados dos casos especiais e hospitais receberão os doentes que exigem internação. E, quando necessário, teremos acesso a exames de alta complexidade.

Organizar o sistema, dar prioridade para o que for prioritário, hierarquizar o atendimento e comprometer a equipe multiprofissional é um bom começo. Fora isso, é imaginar que um dia poderemos chorar nos ombros de robôs.

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